Fonte: Meditação de Santo Afonso
“Considera,
homem, o quão importante é o conseguires alcançar tua meta final: importa tudo;
porque se o consegues e te salvas, serás para sempre Beato e gozarás de corpo e
alma de todos os bens: mas se não o consegues, perderás alma e corpo, paraíso e
Deus: serás eternamente mísero, serás para sempre danado. Então este é o
negócio de todos os negócios, o único importante, o único necessário: o servir
a Deus e salvar-se a alma. Então não digas: Irei satisfazer-me e depois me
darei a Deus e espero salvar-me. Esta falsa esperança quantos não mandou para o
inferno, os quais assim diziam e agora são danados, e não existe remédio para
eles! Qual o danado que queria realmente danar-se? Mas Deus amaldiçoa quem peca
com esperança no perdão: “Maledictus homo qui peccat in spe”. Tu dizes: Quero
fazer este pecado e depois me confessarei. E quem sabe tu terás este tempo?
Quem te dá a certeza de que não morrerás logo após o pecado? Entrementes perdes
a graça de Deus. E se não a achas mais? Deus é misericordioso para quem o teme
e não para quem o despreza: “Et misericordia eius timentibus eum” (Lc I). Não
digas mais que dois ou três pecados dão no mesmo: Não, porque Deus perdoar-te-á
dois pecados, mas não três. Deus suporta, mas não para sempre: “In plenitudine
peccatorum puniat” (II Mc 5). Quando cheia está a medida, Deus não perdoa mais;
ou castiga com a morte ou com o abandono do pecador, de maneira que, de pecado
em pecado, acabará no inferno, castigo este pior do que a morte. Atenção,
irmão, a isto que agora lês. Acaba com isso, doa-te a Deus. Pensa que este é o
último aviso que te manda Deus. Basta o quanto já o ofendeste. Basta o tanto
que Ele te suportou. Fica trêmulo ao pensar que ao cometer mais um pecado Deus
não mais te perdoará. Presta atenção: Trata-se da alma e da eternidade. A
quantos este pensamento levou para o deserto, para os conventos, para as
grutas. “Pobre de mim, que estou repleto de pecados! Com o coração aflito, a
alma pesada, o inferno adquirido, Deus perdido. Ah! Deus meu e Pai meu, ata-me
em teu amor”.
Considera como este negócio é de todos o mais descurado. Em tudo pensamos, na
salvação nunca. Para tudo achamos tempo, menos para Deus. Fale-se a um mundano
para que freqüente os sacramentos, que por meia hora ao dia faça orações,
responderá: Tenho filhos, netos, posses, tenho mais o que fazer... Ó Deus, e tu
não tens alma? Chama teus filhos e netos, eles te tirarão do inferno, terão
este poder? Não podes pôr de acordo Deus e o mundo, paraíso e pecado. A
salvação não é negócio que possa ser tratado levianamente; é preciso usar de
violência contra si mesmo, é preciso coragem se queres ganhar a coroa imortal.
Quantos cristãos se vangloriavam de poder postergar o serviço devido a Deus e
mesmo assim salvarem-se... Agora estão no inferno! Que rematada loucura, pensar
no que logo passa, e tão pouco pensar no que jamais terá fim! Ah cristão, pensa
no que já fizeste! Pensa que em breve desalojarás desta terra e irás para a
casa da eternidade! Pobre de ti se fores danado! Não terás mais a chance de
remediar.
Considera o que vem a seguir e diz: “Tenho uma alma, se a perder perdi tudo.
Tenho uma alma, se em troca dela obtiver um mundo, de que me servirá? Se me
torno um grande homem e perco a minha alma, o que me ajuda? Se acumulo
riquezas, se aumento o tamanho de minha casa, se faço crescer os meus filhos,
nada lhes faltando, se perder a minha alma, do que me valerá tudo isso? A que
valeram as riquezas, as grandezas, os prazeres, as vaidades a tantos que
viveram no mundo e que agora são pó numa fossa e já confinados no inferno?
Então, se a alma é minha, se tenho uma alma e a perder, perdê-la-ei para todo o
sempre, devo pensar na minha salvação”. Este ponto é muito importante. Trata-se
de sermos para sempre felizes ou para sempre infelizes. “Ó meu Deus, confesso e
envergonho-me de, até agora, ter vivido como cego, de ter ido para tão longe de
Ti e de não ter pensado em salvar esta única, minha alma. Salvai-me, ó Pai, por
Jesus Cristo: Alegro-me em tudo perder contanto que não vos perca, meu Deus.
Maria, esperança minha, salvai-me com vossa intercessão”.”
Tradução de Pier Giorgio Citeroni