Em
19 de novembro do ano do senhor de 569 ‒ há mais de 1.400 anos! – numa procissão
no mosteiro da Santa Cruz, em Poitiers, França, ressoou um hino que durante os
quinze séculos seguintes haveria de ser entoado nas igrejas e mosteiros do
mundo todo nos ofícios da Semana Santa.
O
hino é o “Vexilla regis prodeunt” (“Os estandartes do rei avançam”) e fora
composto por São Venancio Fortunato (530-609), bispo de Poitiers, a pedido da
rainha-mãe Santa Radegunda.
Santa
Radegunda após a morte do rei Clotário I seu marido, fundou o mosteiro da Santa
Cruz. Ela recebeu de presente um fragmento do Santo Lenho doado pelo imperador
de Bizâncio Justino II e sua esposa a imperatriz Sofia.
Felizes
tempos em que os governantes dos Estados privilegiavam a fé e a ortodoxia
religiosa e moral!
A
Santa encomendou então ao santo religioso, famoso pelas suas qualidades poéticas
postas a serviço de Nosso Redentor, um hino que seria cantado durante a translação
da relíquia da Verdadeira Cruz até o altar-mor.
Procissão
em Roma
Naquele
dia quem diria que se cantava por vez primeira um hino que se transformou num
dos maiores tesouros da Igreja! (cfr. Enciclopedia Catolica)
O
hino comemora o Rei Jesus Cristo que avança rumo a Jerusalém para vencer o
pecado e nos remir.
Ele
vai precedido de seus anjos numa marcha triunfal que culminará no alto do Calvário,
morrendo na Cruz, o estandarte de todos os verdadeiros cristãos.
A
letra diz:
Avançam
os estandartes do Rei:
O
mistério da Cruz ilumina o mundo.
Na
cruz, a Vida sustou a morte,
E
na Cruz a morte fez surgir a vida.
Do
lado ferido
pelo
cruel ferro da lança,
para
lavar nossas máculas,
jorrou
água e sangue.
Cumpriram-se
então
Os
fiéis oráculos de David,
quando
disse às nações:
“Deus
reinará desde o madeiro”.
Ó
Árvore formosa e refulgente,
Ornada
com a púrpura do Rei!
Tu
foste digna de tocar
Tão
nobres membros.
Ó
Cruz feliz, porque de teus braços
Pendeu
o preço que resgatou o mundo.
Tu
és a balança onde foi pesado
o
corpo que arrebatou as vítimas do inferno.
Salve
ó Cruz, única esperança nossa,
Neste
tempo de Paixão
aumenta
nos justos a graça
e
dos crimes dos réus obtende a remissão.
Ó
Trindade, fonte de toda salvação!
Ó
Jesus, que nos dás a vitória pela Cruz,
Acrescentai
para nós
O
prêmio de vossa celeste mansão. Amém.
Em
latim, língua tradicional da liturgia católica:
Vexilla
Regis prodeunt: Fulget Crucis mysterium,
Quae
vita mortem pertulit, Et morte vitam protulit.
Quae
vulnerata lanceae Mucrone diro, criminum
Ut
nos lavaret sordibus, Manavit unda et sanguine.
Impleta
sunt quae concinit David fideli carmine,
Dicendo
nationibus: Regnavit a ligno Deus.
Arbor
decora et fulgida, ornata Regis purpura,
Electa
digno stipite tam sancta membra tangere.
Beata,
cuius brachiis Pretium pependit saeculi:
Statera
facta corporis, tulitque praedam tartari.
O
Crux ave, spes unica, hoc Passionis tempore!
Piis
adauge gratiam, reisque dele crimina.
Te,
fons salutis Trinitas, collaudet omnis spiritus:
Quibus
Crucis victoriam largiris, adde praemium. Amen.
O
Papa Urbano VIII o introduziu no culto da Igreja Católica, e o hino ingressou
no Gradual do Vaticano que recolhe os cânticos gregorianos em sua forma
original.
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