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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

ORIGEM DAS CRUZADAS

As guerras entre os países de religião ocidental e  os ocupantes muçulmanos na Terra Santa, principalmente em decorrência da ocupação  dos lugares de veneração dos cristãos  remontam ao século VII  com a ocupação dos maometanos e, mais tarde, os turcos (século XI) que dominaram a região. A princípio oito batalhas, denominadas cruzadas, estenderam-se de 1095 a 1270, se bem  que após esse período, durante muito tempo foram outras organizadas , porém, com características diferentes das Cruzadas primitivas.

Os cristãos na Palestina sempre haviam sido tratados com hospitalidade  pelos  muçulmanos. Os árabes também consideravam Jerusalém  uma cidade respeitável e Jesus, segundo eles, simplesmente um  dos profetas  que haviam precedido Maomé.  Quando Al-Hakim,  o califa louco do Cairo, destruiu a  igreja do Santo Sepulcro (1010), os próprios maometanos contribuíram substancialmente para a sua restauração.

Entretanto, com o avanço dos turcos  modificou-se completamente a situação.  Em 1070 os turcos haviam tomado Jerusalém aos árabes e  começaram então as  perseguições e profanações que os peregrinos narravam com cores vivas no Ocidente. 

Nessa época,  um piedoso peregrino chamado Pedro d'Amiens, ao retornar da Terra Santa, foi ter com o Papa Urbano II a fim de descrever-lhe os vexames dos cristãos na Palestina e  profanação dos lugares santos pelos infiéis. Por este motivo, o Papa convocou o concílio de Clermont (1095), ao qual compareceram  muitos príncipes do Ocidente.   Lá compareceu também Pedro d'Amiens e expôs com tal emoção a triste situação do país de Cristo que todos os circunstantes,  em lágrimas,  romperam num grito uníssono de fé e coragem: "Deus o quer! Deus o quer! ". O Ocidente em peso pôs-se em movimento  para libertar do poder dos turcos a Terra Santa. 

Ocorre que antes  da definição e concretização das metas,  Pedro, o Eremita e um cavaleiro intitulado Gauthier Sans-Avoir (Valter Sem Tostão),  anteciparam-se aos planos do Papa Urbano II e partiram para o Oriente  com uma massa de 17.000 pessoas ignorantes, pobremente equipadas e sem nenhuma experiência militar.  Foi um movimento paralelo e independente que partiu em direção à Nicéia sem o prévio consentimento do Papa, sob a denominação "cruzada do povo".  Após uma travessia caracterizada por roubos, violências e  epidemias, foram  completamente trucidados pelos  turcos quando atacaram aquela cidade. Por isto,  não considera-se este movimento como a primeira cruzada, que teve  seu início em 1096, portanto, no ano seguinte. 

1ª. Cruzada 

A primeira  das cruzadas  partiu em 1096 e teve seu término em 1099. Os maiores  nomes da cristandade feudal nela figuravam, predominando franceses e normandos. Sob o comando de Godofredo de Buillon seguiram para Constantinopla. Os muçulmanos achavam-se divididos e os cruzados  tomaram facilmente Antioquia. Durante um período de três anos, após  renhidas batalhas, no dia  15 de julho de 1099, numa Sexta-Feira Santa,  os cruzados  tomaram Jerusalém. Por causa de sua coragem e piedade, os chefes dos exércitos o elegeram rei de Jerusalém. Conduziram-no à igreja do Santo Sepulcro, onde o aclamaram solenemente. Quando, porém,  lhe ofereceram a  coroa real, o duque  recusou-se a aceitá-la e disse: "Não permita Deus que eu cinja um diadema de  ouro no mesmo local em que o Rei dos reis foi coroado de espinhos".  Com  a  finalidade  de  defesa  foram criadas  ordens  militares-religiosas, como a  dos Hospitalários ou Cavaleiros de São João, a dos  Templários  e  a  dos Cavaleiros  Teutônicos, tendo o novo reino subsistido por quase  cem anos.  

2ª. Cruzada 

Saladino, um aventureiro curdo, tornou-se  sultão do Egito e reunindo os esforços do Egito aos de Bagdá, fez a pregação de uma guerra santa muçulmana  contra os cristãos. A contra-cruzada de Saladino atingiu seu objetivo precisamente em 1187, quando Jerusalém foi retomada. Esse fato suscitou a terceira cruzada, denominada "Cruzada dos Reis". 

3ª. Cruzada ("Cruzada dos Reis") 

A Cruzada dos Reis foi chefiada por  Frederico I (Frederico Barba Ruiva), imperador do Sacro Império Romano Germânico, Felipe Augusto, rei da França e Ricardo Coração de Leão, rei da Inglaterra,os quais  não obtiveram êxito.  Frederico I morreu afogado no rio Selef, na Cicília. Felipe Augusto regressou logo, tendo perdido quase  todas as suas tropas e Ricardo Coração de Leão ficou na Palestina tentando em vão tomar Jerusalém. 

Esta terceira cruzada, contudo, marcou uma  importante transformação nas relações entre cristãos e muçulmanos. Ricardo Coração de Leão firmou com Saladino um tratado, mediante o qual este reconhecia aos cristãos o domínio de uma  faixa costeira  na Síria e permitia o livre acesso dos peregrinos a Jerusalém. 

4ª.  Cruzada ("Cruzada Veneziana") 

A quarta  cruzada foi preparada por Inocêncio III, o grande Papa da Idade Média. Os franceses, principalmente,  acudiram ao apelo do Pontífice. Mas os planos do Papa, de atacar o Egito e  depois a Palestina, foram completamente deturpados pela influência de Veneza. A rica cidade italiana  exigiu 85.000 marcos de  prata para transportar os cruzados. Como não se conseguiu a quantia pedida, foi proposto um acordo pelos venezianos, no qual os cruzados os ajudariam a tomar a  cidade de Zara (hoje Zadar - Iuguslávia), no Adriático, cuja prosperidade  preocupava seriamente Veneza.  Contra a  opinião do Papa, o acordo foi feito e Zara saqueada. Em seguida os venezianos  sugeriram um ataque a Constantinopla, pois não lhes interessava  uma guerra contra os muçulmanos com os quais  comerciavam intensamente. 

Aproveitando-se  das lutas  internas pelo trono bizantino, os cruzados, apesar da oposição de Inocêncio III, dirigiram-se  com uma frota de  480 navios para Constantinopla.  A quarta cruzada transformou-se, assim,  em intrigas e rivalidades entre os príncipes cristãos , fazendo com que os santos lugares  caíssem no poder dos infiéis. Além disto, Constantinopla foi saqueada  totalmente, parcialmente destruída e, em meio à pilhagem, preciosos manuscritos foram inutilizados ou perdidos e  milhares de obras-primas foram roubadas, mutiladas ou esfaceladas. 

 5ª.  e 6ª. Cruzadas 

A quinta cruzada dirigida por André II da Hungria, não teve grande importância histórica.  A sexta, no entanto, comandada por Frederico II, alcançou a Palestina. Frederico II, como havia sido excomungado, não recebeu cooperação cristã. Por ter  conhecimentos em ciência e filosofia árabes, acabou entendendo-se amistosamente com o sultão Al-Kamil,  ocasião em que assinaram um tratado mediante o qual o Islã cedia aos cristãos Acre, Jafa, Sidon, Nazaré, Belém e toda a Jerusalém. 

 7ª e 8ª Cruzadas  

A sétima e oitava  cruzadas foram empreendidas  por Luís IX (São Luís), rei da França. Na sétima cruzada  foi ocupada a  cidade de Damieta, mas logo em seguida  foi feito prisioneiro o bom rei francês, tendo sido  obrigado a pagar pesado resgate. Em 1270 empreendeu uma expedição a Túnis (8ª. Cruzada), onde faleceu, vítima de uma epidemia. 

Consequência sociais e  religiosas das Cruzadas

Os efeitos  das  cruzadas  sobre a vida econômica e social da Europa constituem pontos de divergência entre os modernos historiadores. Não se pode afirmar que as Cruzadas tenham ocasionado a ruína do feudalismo. A desintegração feudal era um processo já em evolução e para ele talvez tenha  contribuido mais  a  peste negra (que matou um terço da população européia) do que as Cruzadas.  Todavia, as Cruzadas  apressaram a emancipação do povo. Muitos camponeses aproveitaram-se da  ausência de seus  senhores para libertarem-se da escravidão. 

Ademais, os grandes  centros da civilização sarracena não eram Jerusalém e Antioquia, mas sim Bagdá , Damasco, Toledo e Córdoba, não visados pelas expedições cristãs.  Contudo, foi sensível o incremento do comércio oriental. A prosperidade de  cidades  comerciais  italianas que substituíram Constantinopla como mediadora entre o comércio do Oriente e do Ocidente, foi paralela ao impulso recebido pela economia monetária da Europa. 

É inegável que as Cruzadas estimularam o interesse pelas  explorações e descobrimentos. Marcaram sem dúvida, o começo da expansão da  fronteira  européia. 

Paralelamente, no campo religioso, as fronteiras excitaram em todo o  oriente nova vida  e expansão de ordens  religiosas.  Devido às  invasões  dos povos bárbaros, as ciências por longo tempo se haviam refugiado nos conventos; então, porém, recomeçavam a  espalhar-se  entre o povo.  Fundaram-se  universidades e escolas, como em Paris  e Colônia, cujas  cátedras eram ocupadas por homens  distintos e  de vasto saber:  Santo Anselmo, 1109;   Alexandre de Hales,  1245;  Santo Alberto Magno, 1280;  São Tomaz de Aquino, padroeiro das escolas Católicas, 1274;  São Boaventura, 1274;  Venerável Duns Escoto, o "Doutor Franciscano", 1308. 

Mais de dois milhões de homens aí sacrificaram  suas vidas.  Tantos sacrifícios não eram vãos, pois grandes benefícios decorreram dessas cruzadas, para toda a  sociedade. Também destaca-se  a fundação de ordens religiosas militares:  A Ordem dos Cavaleiros de São João e a dos Cavaleiros Teutônicos, como mencionamos no início, que tinham por fim aliviar os sofrimentos dos cristãos no oriente e  combater os sarracenos. 

As principais  ordens  monásticas fundadas  durante esta  época são:  a dos camaldulenses, por São Romualdo (1037); dos cartuchos, por São Bruno (1101); dos premonstratenses, por São Norberto (1134); dos cistercienses, por São Roberto e São Bernardo (1153); dos carmelitas, pelo b. Alberto (1214);  e  dos franciscanos, por São Francisco de Assis (1226). 

Em toda a parte floresceu a santa religião. Os fiéis construíram catedrais magníficas, que ainda hoje causam  admiração e a fundação dessas e outras ordens religiosas dava à Igreja um brilho especial. Grande é o número de santos que estas ordens contam em seu grêmio. A toda a parte do mundo mandaram seus missionários, para pregarem o Evangelho.
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