O
SENHOR permitiu que Santa Brígida tivesse uma Visão real de um julgamento no
Tribunal de DEUS, com esse objetivo ordenou que fossem realizados todos os
diálogos que normalmente são suprimidos, em face da Onisciência Divina, das
virtudes e dons da MÃE DE DEUS e dos Anjos. Mas foi assim para que ela vendo e
ouvindo, pudesse descrever todos os acontecimentos no Livro das Revelações, o
qual foi editado por ordem DELE, para conhecimento e benefício da humanidade.
São textos fortes e autênticos, alertas vivos para a alma e a vida de quem quer
ser feliz aqui na Terra e alcançar o Céu.
Visão
do julgamento de uma alma que o demônio fazia gravíssimas acusações; a VIRGEM
MARIA a defende, sabendo ter aquela alma alcançado o Amor de DEUS no último
instante de sua vida e a salva; mas a alma terá que pagar todos os seus pecados
a Justiça Divina no Purgatório.
LIVRO
6 - Capítulo 29
Santa
Brígida viu que se apresentou um demônio no Tribunal de DEUS, que tomava conta
da alma de um defunto, que tremia com muito medo. E o demônio disse ao JUIZ:
“Aqui está a presa. Teu Anjo da Guarda e eu estávamos a seguir esta alma desde
o seu nascimento até a sua morte; ele para a defender, e eu para lhe fazer
dano, e ambos a observávamos como caçadores. Mas ao fim ela caiu em minhas mãos,
e para atingi-la sou tão ávido e impetuoso como a torrente da tempestade que
cai de cima, a qual arrasta tudo, nada resiste senão algum forte fundamento,
como âncora, isto é, como a TUA Justiça. Como ainda nada foi decidido neste
julgamento, eu não possuo esta alma com segurança. Por outro lado, a quero com
tanto empenho, como o animal que se acha esfomeado pela abstinência e que de
tanta fome comeria até os seus próprios membros. E assim, considerando que é um
justo JUIZ, no tocante a ela aguardo a justa sentença”.
Respondeu
o JUIZ: “Porque esta alma está em suas mãos e porque te aproximastes mais dela
do que o Meu Anjo”? Respondeu o demônio: “Porque seus pecados foram muito mais
do que as suas boas obras”. Disse o JUIZ: “Mostra quais foram os pecados”?
Argumentou o demônio: “Tenho um livro com a relação completa de seus pecados”.
Inquiriu o JUIZ: “Que nome tem esse livro”? Rebateu o demônio: “Seu nome é
Falta de Obediência, e nesse livro há sete divisões, como se fossem sete
livros, e cada uma das divisões tem três colunas, e cada coluna tem mais de mil
palavras”. Falou o JUIZ: “Diga-me os nomes destes livros, porque embora EU
saiba o nome deles e o conteúdo, quero que fales, para que as pessoas conheçam
a tua malícia e a Minha Bondade”. Respondeu o demônio: “O nome do primeiro
livro é Soberba e nele há três colunas; o segundo livro se refere a sua Cobiça;
o terceiro é sobre a Inveja; o quarto livro é sobre a sua Avareza; o quinto se
refere a sua Preguiça em todos os seus aspectos; o sexto livro é a Cólera, que
o fazia se irritar com muita facilidade; o sétimo livro era a sua Sexualidade”.
O
JUIZ permaneceu em silêncio enquanto se aproximava a MÃE DE DEUS, que estava
mais distante. Ela disse: “Quero disputar com esse demônio sobre a justiça”.
JESUS falou: “Amadíssima MÃE, se não se nega a justiça ao demônio, como se
poderia negá-la a Ti, que é a Minha MÃE e a SENHORA dos Anjos? Tu pode tudo e
tudo sabe em MIM, mas não obstante, fala, para que os outros saibam o Amor que
EU tenho por Ti”.
Em
seguida a VIRGEM MARIA disse ao demônio: “Te mando, diabo, que Me respondas a
três coisas, e mesmo que não queiras responder e seja o Meu pedido imposto à
força, estás obrigado por justiça, porque sou tua SENHORA. Diga-ME, por
ventura, tu conheces todos os pensamentos do homem”? Respondeu o demônio: “Não,
fico conhecendo somente aqueles que posso julgar pelos comportamentos
exteriores das pessoas e por sua disposição em praticá-las, assim como, os
pensamentos que eu mesmo lhe sugiro em seu coração, pois ainda que perdi minha
dignidade angélica, no entanto, pela habilidade de minha própria natureza, me
ficou tanta sagacidade, que pela disposição das pessoas posso entender o estado
da sua mente; mas os seus bons pensamentos não podem ser conhecidos por mim”.
NOSSA
SENHORA lhe disse: “Diga-me, diabo, ainda que seja contra a sua vontade, quem é
que pode apagar a escrita em teu livro”? Respondeu o demônio: “Nada pode ser
apagado nos livros, a não ser o Amor de DEUS; a pessoa que tiver DEUS em seu
coração, mesmo sendo um grande pecador, automaticamente se apaga em meu livro
muita coisa que estava escrito a respeito dele”. A VIRGEM perguntou pela
terceira vez: “Diga-me, diabo: há, por ventura, algum pecador tão imundo e tão
afastado de meu FILHO que não possa alcançar o perdão enquanto vive a sua
existência”? Satanás respondeu: “Ninguém é tão pecador que, si quiser, não
possa alcançar a graça de DEUS enquanto vive. Sempre que alguém, por grande
pecador que seja, muda a sua vontade e sua disposição ruim em boa, revela que
tem o Amor de DEUS e que quer permanecer nele. Isto acontecendo, todos os
demônios não são bastantes para arrancá-lo do bem e levá-lo para o mau caminho
novamente”.
Então
a MÃE da Misericórdia disse a todos os presentes: “Esta alma retornou a Mim, no
final de sua vida, e ela Me disse”:“Vós sois a MÃE da Misericórdia e o auxílio
dos infelizes. Eu sou indigno de suplicar ao Vosso FILHO, porque meus pecados
são graves e muitíssimos, e de modo audacioso provoquei a ira DELE, porque amei
mais os meus prazeres e o mundo que a DEUS meu CRIADOR. Por isso eu rogo, tenha
misericórdia de mim. Vós que não a negais a ninguém que Lhe peça, e, portanto,
me volto a Vós e prometo, que si viver, quero me corrigir e retornar por minha
vontade ao Vosso FILHO e não amar nenhuma outra coisa senão a ELE. Mas,
sobretudo, me pesa e me arrependo, sinto não ter feito nada para honrar o Vosso
FILHO, meu CRIADOR; assim, rogo, piedosíssima SENHORA, tenha misericórdia de
mim, porque a ninguém senão a Vós tenho para recorrer”. NOSSA SENHORA falou: “Com
tais palavras e com este propósito esta alma veio a Mim, no final de sua vida.
Eu pergunto: não devia ouvi-la? Quem, se de todo o coração e com um firme
propósito de se corrigir na sua existência, fazendo uma súplica desta a outro,
não merece ser ouvido? E quanto mais Eu, que sou a MÃE da Misericórdia, não
devo ouvir a todos os que invocam o Meu auxílio”?
O
demônio respondeu: Nada sei a respeito desse propósito; mas se é segundo dizes,
prova-o com razões manifestas”. Disse a VIRGEM: “És indigno que Eu te responda,
no entanto, porque isto se faz para proveito de outros, vou te contestar. Tu,
miserável, falaste que nada daquilo que está escrito em teu livro pode ser
apagado senão pelo Amor de DEUS”. E voltando-se para o JUIZ a VIRGEM falou:
“Meu FILHO, faça que o diabo abra esse livro e leia, e veja se tudo está ali
escrito por completo, ou se tem algo apagado”.
Então
o JUIZ disse ao demônio: “Onde está teu livro”? Respondeu o demônio: “Em meu
ventre”. O JUIZ falou: “Qual é o teu ventre”? Falou o diabo: “Minha memória,
porque no ventre está toda imundice e fedor, assim em minha memória está toda
perversidade e malícia, que como péssimo fedor cheira em TUA presença. Pois
quando por minha soberba me afastei de TI e da TUA Luz, achei em mim toda a
malícia, e se obscureceu a minha memória com respeito às coisas boas de DEUS, e
ficou nesta memória escrita toda a maldade dos pecados”. Então o JUIZ lhe
disse: “Te ordeno, que vejas com esmero e procures em teu livro o que está
escrito e se algo foi apagado sobre os pecados desta alma, e diga
publicamente”. Respondeu o demônio: “Olho o meu livro, e vejo as coisas
escritas de modo diferente do que eu pensava. Vejo que foram apagados aqueles
sete livros, divisões do Livro da Falta de Obediência, que eu tinha nomeado anteriormente,
e nada resta deles no meu livro, senão atrevimentos e licenciosidades”.
Em
seguida o JUIZ disse ao Anjo da Guarda que estava presente: “Onde estão as boas
obras desta alma”? Respondeu o Anjo: “SENHOR, todas as coisas estão na VOSSA
presciência e conhecimento, tanto as presentes, como as passadas e as futuras.
Tudo nós conhecemos e vemos em VÓS, e VÓS em nós, nem necessitamos de
enumerá-los, porque todos eles VÓS conheceis. Mas porque quereis mostrar o
VOSSO Amor, o SENHOR manifesta a VOSSA vontade a quem VOS satisfaz. Desde que
no princípio uniu esta alma ao corpo, eu estive sempre com ela, e tenho também
escrito um livro de suas boas obras. E se quiseres ver este livro, está em
VOSSO poder”.
Disse
o JUIZ: “Não convém julgar senão depois de ouvir e entender o bem e o mal, a
fim de que tudo seja examinado cuidadosamente, a fim de que a sentença
proferida represente o equilíbrio da verdade e a justiça, seja para vida ou
para a morte”. Falou o Anjo: “Meu Livro é denominado Obediência com que ele VOS
obedeceu, e nele há sete colunas. A primeira é o Batismo; a segunda é sua
Abstinência Jejuando, e se reprimindo das obras ilícitas, nos pecados, e até no
prazer da carne e nas tentações; a terceira coluna é a Oração e o Bom Propósito
que com respeito a VÓS ele teve; a quarta são os seus Bons Feitos em esmolas e
outras obras de misericórdia; a quinta, é a Esperança que em VÓS ele tinha; a
sexta, é a Fé que teve como cristão; e a sétima coluna, está o seu Amor a
DEUS”. Ouvindo isto o JUIZ disse ao Anjo bom: “Onde está teu livro”? Ele
respondeu:“Em vossa visão e amor, meu SENHOR”. Então em tom de repreensão, a
VIRGEM disse ao diabo: “Como guardaste o teu livro, e como se apagou o que nele
estava escrito”? E respondeu o demônio: “Ai! Ai! Porque me enganaste”.
Em
seguida disse o JUIZ a sua querida MÃE: Neste particular a sentença Te foi
favorável, e com justiça ganhaste essa alma”. O demônio todo nervoso e se
movimentando dizia: “Perdi, e fui vencido; mas diga-me, JUIZ: Até quando tenho
de ter esta alma por seus excessos e atrevimentos”? Respondeu o JUIZ: “EU te
manifestarei; os livros estão abertos e lidos. Mas ME diga, diabo, ainda que EU
sei de tudo, ME diga se a justiça sob esta alma deve permiti-la entrar ou não
no Céu. Permito-te que agora vejas e saibas a verdade da justiça”.
E
o demônio respondeu:“É a justiça em si, que se uma pessoa morrer sem pecado
mortal, não tomaria as dores do inferno, e quem tem o amor de DEUS, de direito
pode entrar no Céu, depois de se purificar dos seus pecados no Purgatório”.
E
disse o JUIZ: “Já que te abri ao entendimento e te permiti ver a luz da verdade
e da justiça, ME diga para que o ouça quem EU quero (Santa Brígida): qual deve
ser a sentença desta alma”? Respondeu o demônio: “Que se purifique de tal modo,
que nela não fique uma única mancha; porque ainda que por justiça ela TE foi
adjudicada, com tudo, está ainda imunda, e não pode chegar a TI, senão após se
purificar. E como TU, ó JUIZ, me perguntaste, agora também eu LHE pergunto:
Como deve se purificar e até quando tem de estar em minhas mãos”? Respondeu o
JUIZ: “Mando-te, diabo, que não entres nela, nem a absorvas em ti; mas deves
purificá-la até que esteja limpa e sem mancha, pois segundo a sua culpa
padecerá sua pena”.
SENTENÇA:
De
três modos aquela alma pecou na visão, de três modos no ouvido e de outros três
modos pecou no tato. Portanto, a alma deve ser castigada de três modos. Na
visão: primeiro, deve ver e entender todos os seus pecados e abominações;
segundo, deve ver toda a tua malícia; terceiro, deve ver todas as suas misérias
e as terríveis penas das outras almas. Igualmente, será afligida de três modos
no ouvido. Primeiro, ouvirá um horrível “ai”, porque quis ouvir o seu próprio
louvor e os encantos do mundo: segundo, deve ouvir os horrorosos clamores e zombarias
dos demônios: terceiro, ouvirá os opróbrios e as intoleráveis misérias, porque
ouviu mais e com mais prazer os amores e os favores do mundo, do que de DEUS, e
serviu com mais empenho ao mundo do que a seu DEUS.
De
três modos também se afligirá no tato. Primeiro, arderá num fogo abrasíssimo
interiormente e exteriormente, de maneira que na alma não fique a menor mancha
que não seja purificada pelo fogo; segundo, padecerá um imenso frio, porque
ardia em sua cobiça e era frio no seu amor a DEUS; terceiro, estará nas mãos
dos demônios, para que não tenha nem o menor pensamento nem a mais leve palavra
que não seja purificada, até que fique como o ouro, que se apura no crisol e na
forja, conforme a vontade de seu dono.
Então
perguntou o demônio: “Até quando estará esta alma nesta pena”? Respondeu o
JUIZ: “Posto que sua vontade fosse viver no mundo, e era tão grande o seu
desejo, que por sua própria vontade teria permanecido vivendo no corpo até o
final dos tempos, esta pena vai durar até o fim do mundo. A Minha Justiça é que
todo aquele que tem o Amor de DEUS, e com todo empenho ME deseja e aspira estar
Comigo, separando-se do mundo, este sim, a pena dele deve lhe propiciar o Céu,
porque as provas e dificuldades da vida presente serão a sua purificação. Mas o
que teme a morte por causa dos pecados e com medo da intensa pena futura que
poderia receber, e se quiser ter mais tempo para se emendar, este deve ter uma
pena leve no Purgatório. Mas aquele que se esquecendo de MIM, deseja viver até
o dia do Juízo, ainda que não peque mortalmente, contudo, pelo imenso desejo de
viver que tem, deverá ter uma pena perpétua até o Dia do Juízo”.
Então
disse a piedosíssima VIRGEM MARIA: “Bendito seja, Meu FILHO, por TUA Justiça
que é plena de Misericórdia. Ainda que nós o vejamos e saibamos tudo em TI,
diga-me, para a inteligência e conhecimento das pessoas, que providência se
deve tomar para diminuir tão longo tempo de pena, e qual seria o caminho a
seguir para se evitar um fogo tão cruel, e como também poderá esta alma se livrar
das mãos dos demônios”. Respondeu o FILHO: “Nada Te posso negar, porque és a
MÃE da Misericórdia, e a todos proporciona e procura dar consolo e
misericórdia”.
“Três
coisas existem e que fazem diminuir tão grande tempo de pena, e que apaga
aquele fogo terrível, e também livra a alma das mãos do demônio. A primeira é,
se alguém devolve o que ele injustamente tomou (roubou) ou arrancou de outros,
ou está obrigado a lhes devolver conforme decisão da justiça e não devolveu;
isto porque, a alma deve se purgar, ou pelas súplicas dos Santos, ou pelas
esmolas e boas obras dos amigos, ou por uma suficiente e necessária
purificação. O segundo, (para compensar a usura da pessoa que tem posse) é uma
esmola vultosa, pois através dela se apaga o pecado, como com a água se apaga a
sede. O terceiro é a oferenda de Meu Corpo feita por ele no altar (Celebrações
de Santas Missas, Confissão Sacramental, Sagrada Comunhão), e as súplicas de
Meus amigos”.
“Estas
três coisas são as que libertarão a alma daquelas três penas”. Então disse a
MÃE da Misericórdia: E de que lhe servem agora as boas obras que por TI ela
fez”? Respondeu o FILHO: “Não perguntas, porque o ignores, pois tudo o sabes e
vês em MIM, perguntas para ser mostrado aos outros o Meu Amor. Na verdade, a
mais insignificante palavra não ficará sem remuneração, também, nem o mais
ligeiro pensamento que teve em Minha honra; pois tudo quanto fez por MIM, agora
está diante dela e dentro de sua pena, para lhe servir de refrigério e consolo,
sentindo menos ardor do que sofreria de outro modo”. NOSSA SENHORA perguntou ao
seu FILHO: “Por que essa alma está imóvel, como quem não move mãos nem pés
contra o seu inimigo e não obstante ela vive”?
O
JUIZ respondeu: “De MIM escreveu o Profeta, que fui como um cordeiro emudecido
diante de quem o tosquiava; e na verdade, EU emudeci diante de Meus inimigos.
Portanto, é justiça, que essa alma por não ter tido interesse pela Minha morte
e por tê-la considerado sem importância, esteja agora como o menino que nas
mãos dos homicidas não fala, permanece em silêncio”. Disse a MÃE: “Bendito
seja, meu dulcíssimo FILHO, que nada faz sem justiça. Tu disseste Meu FILHO,
que esta alma podia ser socorrida pelos seus amigos e pela Igreja (onde rezam
TEUS amigos e as pessoas de fé) , e por outro lado, bem sabes que ela me serviu
de três modos. Primeiro, com a abstinência, pois jejuava nas vigílias das
Minhas Festividades e nelas ela se abstinha em meu nome; segundo, porque lia o
Meu Ofício; e terceiro, porque cantava em minha homenagem. E assim, Meu FILHO,
já que ouves a TEUS amigos que falam e cantam o TEU Nome na Terra, TE rogo que
também TE dignes Me ouvir”.
Respondeu
o FILHO: Sempre se ouvem com a maior benevolência as súplicas das pessoas
prediletas de algum Santo; e como Tu és o que EU mais amo sobre todas as
coisas, pede quanto queiras, e Lhe será dado”. Disse a MÃE: “Esta alma padece
três penas na visão, três no olvido e três no tato. TE suplico, pois, Meu FILHO
Amadíssimo, que lhe diminua uma pena na visão, para que não veja os horríveis
demônios, ainda que sofra as outras penas, porque TUA Justiça assim o exige,
conforme a Justiça de TUA Misericórdia, a qual não Me oponho. TE suplico, em
segundo lugar, que no ouvido diminua uma pena, para que não ouça sua desonra e
confusão. Por último, TE rogo que no tato lhe tires uma pena, para que não
sinta esse frio maior que o gelo, o qual o merece ter, porque era frio em teu
amor”. Respondeu o FILHO: “Bendita seja, Amadíssima MÃE, a ti nada se pode
negar: faça-se a Tua vontade, e seja, conforme o Teu pedido”. NOSSA SENHORA
respondeu: “Bendito seja TU, Meu Dulcíssimo FILHO, pela imensidão de TEU Amor e
Misericórdia”.
Naquele
instante apareceu um Santo com grande acompanhamento, e disse: “Louvado seja,
SENHOR, nosso DEUS, CRIADOR e JUIZ de todos. Esta alma em vida, foi minha
devota, jejuou em minha honra, e me louvou fazendo súplicas, da mesma maneira
que a estes amigos Vossos que se acham presentes. Assim, pois, suplico por eles
e por mim, que tenhais compaixão com esta alma, e por nossas súplicas LHE deis
o descanso e uma boa pena, e que os demônios não tenham poder para obscurecer a
sua consciência; pois se não lhes contém a fúria, eles irão obscurecê-la de tal
modo, que nunca essa alma conseguiria esperar o termo de seu infortúnio e
atingir a glória, senão quando fosse TUA Vontade de olhar especialmente para
ela com TUA graça. Portanto, piedosíssimo SENHOR, concede-lhe por nossas
súplicas, que em qualquer pena que ela receber, saiba positivamente que
acabando a pena, conseguirá então, alcançar a glória perpétua”.
Respondeu
o JUIZ: “Assim o exige a verdadeira justiça, porque esta alma afastou muitas
vezes sua consciência dos pensamentos espirituais e do entendimento das coisas
eternas, e quis obscurecer sua consciência, sem temer trabalhar contra MIM, e,
portanto, justo é, repito, que os demônios obscureçam a sua consciência. Mas
porque vós, Meus amadíssimos amigos, ouvistes as Minhas palavras e as
colocastes em obra, não se deve negar nada a vos, e assim farei o que pedis”.
Então responderam todos os Santos: “Bendito seja, DEUS, em toda a VOSSA
Justiça, que julga justamente, e não deixa nada sem castigo”.
Em
seguida, o Anjo da Guarda daquela alma, disse ao JUIZ: “Desde o princípio da
união desta alma com o seu corpo, eu estive com ela, e a acompanhei por providência
do VOSSO Amor, e ela, algumas vezes fazia a minha vontade. Por isso rogo SENHOR
meu DEUS, tenha compaixão dela”. Respondeu o SENHOR: "Sim, está bem; mas a
respeito disto, queremos deliberar”. Então, disse Santa Brígida, a visão
desapareceu.
EXPLICAÇÃO
Esta
alma foi de um senhor bondoso e amigo dos pobres, ele e a esposa deram esmolas
de vultosas quantias. Ela faleceu em Roma, como tinha anunciado o ESPÍRITO DE
DEUS, por meio de Santa Brígida, a quem disse: “Tem entendido que essa senhora
regressará a sua pátria, mas não morrerá ali”. E assim foi, ela regressou a
Suécia e na segunda vez que viajou a Roma, ela morreu e lá foi sepultada.
Continuação
da admirável revelação acima. DEUS glorificou a alma que se apresentou em
Juízo; e também, uma breve idéia da imensa glória dos Santos.
LIVRO
6 - Capítulo 30
Quatro
anos depois do que foi dito na revelação anterior, Santa Brígida viu um jovem
resplandecente em companhia da mencionada alma, a qual estava vestida, ainda
não com toda a roupa. E o jovem disse ao JUIZ, que estava sentado no trono, ao
redor do qual estavam milhares e milhares de Anjos, e todos O adoravam por Sua
paciência e Amor: “Ó JUIZ, esta é a alma por quem eu pedia, e VOS me respondeu
que queria deliberar a respeito, mas agora, todos nós presentes, voltamos a
implorar a VOSSA Misericórdia em favor dela. E ainda que todos nós conhecemos o
VOSSO Amor, não obstante, por esta VOSSA Esposa (Santa Brígida) que ouve e olha
tudo isto numa visão, falamos ao estilo dos homens, ainda que as coisas humanas
não tenham nenhuma conexão conosco”.
Respondeu
o JUIZ: “Se de uma carroça cheia de espigas de trigo muitos homens, uns depois
de outros, pegassem cada qual uma espiga, ir-se-ia diminuindo o número destas
espigas; igualmente sucede agora, porque vieram a MIM em favor dessa alma
muitas lágrimas e obras de amor; e por tanto, cumprida a justiça, leva-a ao
descanso, que nem os olhos podem ver, nem os ouvidos podem ouvir, e que nem
essa mesma alma podia pensar quando estava no corpo; descanso onde não há Céu
acima nem Terra abaixo, cuja altura não se pode calcular, e cuja longitude é
incalculável; onde é admirável a largura, e incompreensível a profundidade;
onde está DEUS sobre todas as coisas, fora e dentro, regendo tudo, e tudo o
contém, e não está contido em nada”.
Viu-se
em seguida, aquela alma subir ao Céu, tão brilhante como uma estrela muito
resplandecente toda envolta em esplendor. E então disse o JUIZ, o SENHOR JESUS:
“Logo chegará o tempo em que EU vou pronunciar a Minha sentença e fazer justiça
contra os descendentes do defunto desta alma, pois como esta geração vive
cultivando o orgulho e a soberba quando subir ao Tribunal da Eternidade terá
que pagar a Justiça Divina o valor correspondente a mesma soberba e orgulho que
cultivam na vida”.