(Traduzido e adaptado do inglês por Ewerton Wagner Santos Caetano. “50 NEW TESTAMENT PROOFS FOR PETRINE PRIMACY AND THE PAPACY”, Copyright 1994 by Dave Armstrong. All rights reserved.)
A doutrina católica sobre o
papado é bíblica e decorre do primado de São Pedro entre os Apóstolos. Como
todas as doutrinas cristãs, desenvolveu-se ao longo dos séculos mas não se
afastou dos seus elementos essenciais, presentes na liderança e nas
prerrogativas do Apóstolo São Pedro. Tais prerrogativas foram dadas a São Pedro
por Nosso Senhor Jesus Cristo, reconhecidas por seus contemporâneos e aceitas
pela Igreja Primitiva. Os dados bíblicos sobre o Primado Petrino são muito
fortes e inelutáveis em virtude de seu peso cumulativo. Tal peso fica
especialmente claro com o auxílio de comentários bíblicos. A evidência da
Sagrada Escritura se segue logo abaixo:
Mt 16,18: “E eu te digo, tu és
Pedro, e sobre esta pedra eu edificarei a minha Igreja, e os poderes da morte
não prevalecerão contra ela”.
A pedra (em grego, petra) aqui
mencionada é o próprio São Pedro e não a sua fé ou Jesus Cristo {a}. Cristo não
aparece aqui como a fundação, mas como o arquiteto que “constrói”. A Igreja é
edificada, não sobre confissões, mas sobre confessores – pessoas vivas (ver,
por exemplo, 1Pd 2,5).
Hoje o consenso da grande
maioria dos eruditos e comentadores bíblicos se encontra a favor da
interpretação católica. Aqui é dito que São Pedro é a pedra de fundação da
Igreja, a cabeça e o superior da família de Deus (vemos aí a “semente” da
doutrina do papado). Além disso, a palavra “pedra” expressa uma metáfora
análoga à usada por São Pedro para designar o Messias sofredor e desprezado
(1Pd 2,4-8; cf. Mt 21,42). Sem uma fundação sólida qualquer casa desaba. São
Pedro é o fundamento, mas não o fundador da Igreja; administrador, mas não o
Senhor da Igreja. O Bom Pastor (Jo 10,11) nos dá também outros pastores (Ef
4,11).
{a} – N. do T.: Alguns
protestantes objetam que o nome de Pedro em grego, petros, significa “pequena
pedra”, e que, portanto, Cristo refere-se a si próprio como rocha fundamental
da Igreja, petra, “grande pedra”. Tal objeção não se sustenta porque: I – No grego
koiné do NT as palavras petros e petra não possuem significados distintos [ver
as seguintes fontes protestantes que confirmam este fato: Joseph H. Thayer,
Thayer's Greek-English Lexicon of the New Testament (Peabody: Hendrickson,
1996), 507; D.A. Carson, "Matthew," in Frank E. Gaebelein, ed., The
Expositor's Bible Commentary (Grand Rapids: Zondervan, 1984), vol. 8, 368]. II
– A palavra grega para designar “pequena pedra” é lithos. Por exemplo, em Mt
4,3, o demônio tenta o Senhor a operar um milagre transformando algumas pedras,
lithoi, em pães; em Jo 10,31, os judeus apanham pedras, lithoi, para apedrejar
Jesus. III – Jesus falava aramaico, não grego, e em aramaico ele usou a mesma
palavra para designar Pedro e pedra: kefa (cfr. Jo 1,42). Se o Senhor tencionasse
chamar o Apóstolo de “pequena pedra”, teria usado o termo aramaico
correspondente, evna. IV – O evangelista usou petros enquanto forma masculina
de petra, para evitar uma impropriedade de gênero, a designação de um sujeito
masculino – o Apóstolo – com um nome feminino – petra. V -Especialistas em
grego reconhecem que petros = petra na sentença de Mt 16,18. A sintaxe da frase
não deixa lugar para dúvidas. Petros é o mesmo sujeito que é designado sob o
nome de petra, ou seja, São Pedro.
Mt 16,19: “Eu te darei as
chaves do Reino dos Céus…”
O “poder das chaves” tem a ver
com a disciplina eclesiástica e a autoridade administrativa com respeito às
exigências da fé, como em Is 22,2 (cf. Is 9,6; Jó 12,14. Ap 3,7). É deste poder
que derivam o uso de censuras, a excomunhão, a absolvição, a disciplina
batismal, a imposição de penitências e os poderes legislativos. No AT um
mordomo, ou primeiro ministro, é o “maior da casa”, o homem que ficava acima da
assembléia (Gn 41,40; 43,19; 44,4; 1Rs 4,6; 16,9; 18,3; 2Rs 10,5; 15,5; 18,18;
Is 22,15.20-21).
Mt 16,19: “…o que tu ligares
sobre a terra será ligado no Céu, e o que desligares sobre a terra será
desligado no Céu”.
“Ligar” e “desligar” eram
termos técnicos usados pelos rabinos, que significavam “proibir” e “permitir”
com referência à interpretação da Lei. Secundariamente significavam o poder de
condenar ou absolver. Portanto, a São Pedro e a seus sucessores, os papas, foi
dada a autoridade de estabelecer as leis para a doutrina e a vida, em virtude
da Revelação e da assistência do Espírito Santo (Jo 16,13), e de receber a
obediência da Igreja. “Ligar” e “desligar” representam os poderes judiciais e
legislativos do papa e do bispos (Mt 18,17-18; Jo 20,23). São Pedro, no
entanto, é o único Apóstolo que recebeu esses poderes individualmente, o que o
põe em lugar de preeminência no Colégio Apostólico.
O nome de Pedro ocorre em
primeiro lugar em todas as listas dos Apóstolos (Mt 10,2; Mc 3,16; Lc 6,14; At
1,13). Mateus chega a chamá-lo de “primeiro” (10,2). Judas Iscariotes é
invariavelmente mencionado em último lugar.
Pedro é quase sempre mencionado
primeiro, quando seu nome aparece junto de outros. Em um exemplo que contradiz
esta regra (o único), Gl 2,9, no qual “Cefas” é listado depois de Tiago e antes
de João, Pedro aparece claramente em destaque, levando-se em conta o contexto
do versículo (p. ex., 1,18-19; 2,7-8). Alguns códices registram variações nas
quais Pedro aparece em primeiro lugar.
Apenas Pedro, entre todos os
Apóstolos, recebe um novo nome, “pedra”, solenemente conferido (Jo 1,42; Mt
16,18).
Da mesma forma, Pedro é
colocado por Jesus como o Pastor Chefe depois dele mesmo (Jo 21,15-17)
sobre a
Igreja Universal, embora outros possuam um papel parecido mas subordinado (At
20,28; 1Pd 5,2).
Jesus ora apenas por Pedro,
dentre todos os Apóstolos, para que a sua fé não desfaleça (Lc 22,32).
Apenas Pedro, entre todos os
Apóstolos, é exortado por Jesus: “fortalece teus irmãos” (Lc 22,32).
Pedro é o primeiro a confessar
a divindade de Cristo (Mt 16,16).
Apenas de Pedro se diz que
recebeu conhecimento divino através de uma revelação especial (Mt 16,17).
Pedro é considerado pelos
Judeus (At 4,1-13) como o líder e porta-voz dos cristãos.
Pedro é considerado pelo povo
da mesma forma (At 2,37-41; 5,15).
Jesus Cristo paga o imposto
para si mesmo e para Pedro (Mt 17,24-27).
Cristo ensina da barca de
Pedro, e a pesca milagrosa que se segue (Lc 5,1-11) é talvez uma metáfora sobre
o papa como “pescador de homens” (cf. Mt 4,19).
Pedro foi o primeiro Apóstolo a
partir para, e a entrar em, o sepulcro vazio (Lc 24,12; Jo 20,6).
Um anjo destaca Pedro entre os
discípulos como líder e representante dos Apóstolos (Mc 16,7).
Pedro lidera os Apóstolos na
pesca (Jo 21,2-3.11). A “barca” de Pedro tem sido considerada pelos católicos
como uma figura da Igreja, com Pedro no leme.
Apenas Pedro anda sobre as
águas para encontrar-se com Jesus (Jo 21,7).
As palavras de Pedro são as
primeiras a serem registradas e as mais importantes no Cenáculo, antes de
Pentecostes (At 1,15-22).
Pedro toma a liderança na
convocação para a escolha de um substituto para Judas (At 1,22).
Pedro é a primeira pessoa a
falar (e a única registrada) depois de Pentecostes, de modo que ele foi o
primeiro cristão a “pregar o Evangelho” no tempo da Igreja (At 2,14-36).
Pedro opera o primeiro milagre
do tempo da Igreja, curando um aleijado de nascença (At 3,6-12).
Pedro lança o primeiro anátema
(sobre Ananias e Safira), enfaticamente confirmado por Deus (At 5,2-11)!
A sombra de Pedro opera
milagres (At 5,15).
Pedro é o primeiro depois de
Cristo a ressuscitar uma pessoa morta (At 9,40).
Um anjo instrui Cornélio a
procurar Pedro para conhecer a fé cristã (At 10,1-6).
Pedro é o primeiro a receber os
gentios, após uma revelação de Deus (At 10,9-48).
Pedro ensina aos outros
Apóstolos sobre a catolicidade (universalidade) da Igreja (At 11,5-17).
Pedro é o objeto da primeira
intervenção divina em favor de um indivíduo no tempo da Igreja (um anjo o
liberta da prisão – At 12,1-17).
A Igreja inteira ora por Pedro
enquanto o mesmo está preso (At 12,5).
Pedro preside e abre o primeiro
Concílio da História da Igreja, e lança vários princípios que serão adotados
por todos os cristãos (At 15,7-11).
Paulo distingue as aparições do
Senhor a Pedro após a ressurreição das aparições realizadas diante dos demais
Apóstolos (1Cor 15,4-8).
Os dois discípulos na estrada de Emaús fazem a mesma
distinção (Lc 24,34), na ocasião mencionando apenas Pedro (“Simão”), mesmo
tendo eles mesmos acabado de ver o Cristo ressuscitado (Lc 24,33).
Pedro é muitas vezes
distinguido entre os apóstolos (Mc 1,36; Lc 9,28.32; At 2,37; At 5,29; 1Cor
9,5).
Pedro é quase sempre o
porta-voz dos outros Apóstolos, especialmente nos momentos mais importantes (Mc
8,29; Mt 18,21; Lc 9,5; Lc 12,41; Jo 6,67ss).
O nome de Pedro é sempre o
primeiro a ser listado dentro do “círculo íntimo” dos discípulos (Pedro, Tiago
e João – Mt 17,1; Mt 26,37.40; Mc 5,37; Mc 14,37).
Pedro é muitas vezes figura
central junto a Jesus em cenas dramáticas do Evangelho, como a caminhada sobre
as águas (Mt 14,28-32; Lc 5,1ss; Mc 10,28; Mt 17,24ss).
Pedro é o primeiro a reconhecer
e refutar a heresia, contra Simão o Mago (At 8,14-24).
O nome de Pedro é mais citado
do que todos os discípulos juntos: 191 vezes (162 como Pedro ou Simão Pedro, 23
como Simão e 6 como Cefas). João é o segundo colocado com apenas 48
referências. Pedro está presente em 50% das vezes em que João é mencionado na
Bíblia! O arcebispo Fulton Sheen calculou que todos os outros discípulos
combinados somam 130 referências. Se isto é correto, 60% das referências a
discípulos são referências a São Pedro.
O discurso de Pedro em
Pentecostes (At 2,14-41) contém uma interpretação da Escritura feita com
autoridade, uma decisão doutrinal e um decreto disciplinar referente aos
membros da “Casa de Israel” (2,36) – um exemplo do poder de “ligar e desligar”.
Pedro foi o primeiro
“carismático”, tendo julgado com autoridade a primeira manifestação do dom de
línguas como genuína (At 2,14-21).
Pedro é o primeiro a pregar o
arrependimento cristão e o batismo (At 2,38).
Pedro (presume-se) esteve à
frente do primeiro batismo em massa registrado (At 2,41).
Pedro ordenou o batismo do
primeiro cristão vindo da gentilidade (At 10,44-48).
Pedro foi o primeiro
missionário itinerante, e o primeiro a exercer o que seria chamado de “visita
às igrejas” (At 9,32-38.43). Paulo pregou em Damasco imediatamente após a sua
conversão (At 9,20), mas não tinha viajado até aquela cidade com esse propósito
(Deus alterou seus planos!). Suas jornadas missionárias começam apenas em At
13,2.
Paulo partiu para Jerusalém
especialmente para ver Pedro, por quinze dias, no começo de seu ministério (Gl
1,18), e foi encarregado por Pedro, Tiago e João (Gl 2,9) de pregar para os
gentios.
Pedro age (fortemente indicado)
como o bispo/pastor chefe da Igreja (1Pd 5,1), uma vez que ele exorta todos os
demais bispos, ou “anciãos”.
Pedro interpreta profecia (2Pd
1,16-21).
Pedro corrige aqueles que
interpretam mal os escritos paulinos (2Pd 3,15-16).
Pedro escreve sua primeira
epístola da cidade de Roma, de acordo com muitos estudiosos, sendo seu bispo, e
como bispo universal (ou papa) da Igreja primitiva. “Babilônia” (1Pd 5,13) é
uma espécie de codinome para Roma.
Em conclusão, é necessário
muita credulidade para achar que Deus colocaria São Pedro em tal posição de
preeminência na Bíblia sem que esta preeminência tenha algum significado ou
importância para a história cristã posterior; em particular para o governo da
Igreja. A doutrina sobre o papado é, de longe, a que melhor se ajusta ao dado
bíblico. Considerando a Tradição e a História, a conclusão por sua veracidade é
inescapável.
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