Na catedral de Prato, Itália, não longe de
Florença hoje é venerado solenemente o santo cinto, cíngulo, ou correia de
Nossa Senhora. Ele foi trazido de Jerusalém no ano de 1141 por
Michele Dagomari, habitante da cidade e romeiro na Terra Santa. Porém, em 1173, como não havia confirmação da
autenticidade da relíquia, a Providência valeu-se de um fato extraordinário
para que todos a reconhecessem como verdadeira.
A presença dos Apóstolos na Assunção é uma
tradição que remonta aos primeiros séculos do cristianismo. Não faz parte do
dogma gloriosamente proclamado pelo Papa Pio XII, mas é largamente aceita, como
se pode verificar na iconografia tradicional.
São Gregório bispo de Tours (538-594), o maior
historiador do século VI, foi o primeiro a escrever sobre a Assunção. Segundo a
tradição por ele transcrita, um anjo teria avisado Nossa Senhora de sua próxima
partida aos Céus. Por sua vez, Nossa Senhora teria comunicado a
notícia às pessoas mais próximas, entre as quais São João Evangelista. Os Apóstolos teriam sido avisados e teriam tido
tempo de chegar naturalmente. Porém, segundo outros, chegaram miraculosamente.
A Liturgia católica do rito maronita reza: “Vós
sois, ó Maria, a Mãe Puríssima, fonte de abundantes bênçãos; Vós sois a plena
de graça, que quando deixastes este mundo, vieram todos os santos Apóstolos de
distantes regiões, para vê-La partir para o Céu, enquanto os Anjos do
Altíssimo, diante de Vós, cantavam com alegria”.
Os Apóstolos certamente estavam acompanhados e
havia a presença dos fiéis que moravam nas proximidades da casa da Santíssima
Virgem. A Santa Casa de Loreto conserva um altar dito dos Apóstolos, onde eles
celebravam Missa por ocasião das visitas que faziam a Nossa Senhora. Ver em:
Transladação da Santa Casa
São João Damasceno, Padre da Igreja, se refere à
tradição do Oriente a respeito. Segundo ele, durante o Concílio de Calcedônia,
o imperador Marciano e a imperatriz Pulquéria pediram o corpo de Nossa Senhora
a Juvenal (422 – 458), bispo de Jerusalém e primeiro Patriarca da cidade.
O Patriarca respondeu, segundo o Damasceno, que
Ela morreu rodeada de todos os Apóstolos, salvo São Tomé, que chegou com alguns
dias de atraso.
O retardatário São Tomé teria pedido a São Pedro
para ver o túmulo e constatou que o mesmo estava vazio. Nesse momento, ao
levantar suas vistas para o céu, Tomé viu Nossa Senhora na Glória, que,
sorridente, desatou o cinto e lançou-o em suas mãos como símbolo de maternal
bênção e proteção.
Segundo outras versões, Santo Tomé, que chegara
atrasado, só viu a Assunção de longe. Teria sido um castigo por ele ter
duvidado da Ressurreição. Mas um castigo moderado pela misericórdia de Nossa
Senhora que lhe teria feito, à distância, o dom de seu cinto.
O culto do cinto de Nossa Senhora foi instituído
por Santo Agostinho, o grande Doutor da Igreja, e continua sendo difundido
pelos bons sacerdotes agostinianos.
É o famoso cinto bento, dito de Santo Agostinho,
mas que é de Nossa Senhora, o qual é especialmente protetor contra os assaltos
do demônio e da impureza.
É a origem da devoção a Nossa Senhora da Correia,
também chamada de Nossa Senhora da Consolação.
Sobre este culto piedoso e muito popular escreveu
São Germano, Patriarca de Constantinopla, por volta de 720: “Não é possível ver
vossa venerável correia, ó Santíssima Virgem, sem sentir-se cheio de alegria e
penetrado de devoção”.
O monge Eutino, que viveu pelos anos 1098,
pregando sobre ela, dizia: “Nós veneramos a Santa Correia, vemos conservar-se
inteira depois de 900 anos: Cremos realmente que a Rainha do Céu cingiu-se com
ela”.
O cinto estava em Prato, Itália, em 1173. Mas, o
problema é que não se tinha certeza da autenticidade da relíquia, na falta de
documentação canônica ou outra digna de fé.
Naquele ano, a Providência valeu-se de um fato
extraordinário para que todos
reconhecessem sua autenticidade.
No dia de Santo Estêvão, padroeiro da cidade,
colocavam-se todas as relíquias sobre o altar, para com elas serem abençoados os doentes e os
endemoninhados.
Na ocasião, foi exposta também a caixa contendo o
cinto de Nossa Senhora.
Aproximaram então uma possessa que, no momento em
que tocou a caixa, começou a afirmar com insistência que esse cinto era da
Santíssima Virgem, e no mesmo instante viu-se liberada de seu mal.
Iniciou-se então o culto público à sagrada
relíquia. O próprio São Francisco de Assis esteve com seus primeiros frades em
Prato, no ano de 1212, para venerá-la.
Podemos assim acreditar piedosamente, em união com
a tradição da Igreja, que todos os Apóstolos, inclusive o retardatário Tomé, se
reuniram para a Assunção.
Nesta festa podemos elevar a ele a mesma oração
que Santo Agostinho compôs a propósito da dúvida que o apóstolo tivera sobre a
Ressurreição:
“Oh,
bem-aventurado Tomé, tu tocaste com a mão e, pela tua dúvida, inúmeros céticos
acabaram crendo!”.
Foi por meio dele, ou a propósito dele, que o
cíngulo de Nossa Senhora ficou nesta terra e é venerado desde a Idade Média na
catedral de Prato, Itália.
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