por Pe. Charles Pope
Tive uma experiência pouco comum ao celebrar
a missa na paróquia de Santa Maria (Old St. Mary, em Washington). Era uma missa
solene e, excepcionalmente, foi celebrada em latim.
Não era um dia muito diferente da maioria dos
domingos, mas algo muito impressionante estava prestes a acontecer.
Como vocês sabem, a antiga missa em latim era
celebrada "ad orientem", ou seja, orientada em direção ao Oriente
litúrgico. O sacerdote e os fiéis ficam todos de frente para a mesma direção, o
que significa que o celebrante permanecia, na prática, de costas para as
pessoas. Na hora da consagração, o padre se inclina com os antebraços sobre o
altar, segurando a Hóstia.
Nesse dia, pronunciei as veneráveis palavras
da consagração em voz baixa, mas de maneira clara: "Hoc est enim Corpus
meum" ("Isto é o meu Corpo"). Quando me ajoelhei, os sinos
tocaram.
Logo atrás de mim, houve algum tipo de
tumulto, agitação, e eu ouvia sons incongruentes que vinham dos bancos da parte
dianteira da igreja, bem atrás de mim, à minha direita. Em seguida, um gemido e
um grunhido, como um rosnado.
"O que foi isso?", pensei. Não
pareciam sons humanos, mas ruídos de algum animal grande, como um javali ou um
urso, junto a um gemido melancólico que tampouco parecia humano. Elevei a
Hóstia e novamente me perguntei: "O que será que foi isso?". Depois,
houve silêncio. Ao celebrar o rito antigo da missa em latim, o padre não pode
ficar virando para trás. Mas eu continuei pensando: "O que foi
aquilo?".
Chegou a hora da consagração do vinho. Mais
uma vez, inclinei-me, pronunciando claramente as palavras da consagração:
"Hic est enim calix sanguinis mei, novi et aeterni testamenti; mysterium
fidei; qui pro vobis et pro multis effundetur em remissionem pecatorum. Haec
quotiescumque feceritis in mei memoriam facietis" ("Este é o cálice
do meu Sangue, o Sangue da nova e eterna Aliança, que será derramado por vós e
por muitos para a remissão dos pecados. Fazei isto em memória de mim").
Então, ouvi novamente um ruído, mas dessa vez
um inegável gemido, e logo depois, um grito de alguém que clamava: "Jesus,
me deixa em paz! Por que me torturas?". Houve de repente um ruído que
parecia uma briga, e alguém correu para fora da igreja, ao som de um gemido,
como se se tratasse de uma pessoa ferida. As portas da igreja se abriram e
depois se fecharam. Depois disso, silêncio.
Eu não podia virar para trás porque estava
levantando o cálice da consagração. Mas entendi, naquele instante, que alguma pobrealma
atormentada pelo demônio havia se visto frente a Cristo na Eucaristia, e não
tinha conseguido suportar sua presença real, exposta na frente de todos.
Lembrei-me então das palavras da Bíblia: "Também os demônios crêem e
tremem" (Tiago 2, 19).
Assim como São Tiago usou estas palavras para
repreender a fraca fé do seu rebanho, eu também tinha motivos para a contrição.
Por que um pobre homem atormentado pelo demônio era mais consciente da presença
real de Cristo na Eucaristia e ficava mais impactado com ela do que eu??
Ele ficou negativamente impactado e fugiu.
Mas por que eu não me impacto positivamente, com a mesma intensidade? E os
fiéis que estavam nos bancos e presenciaram tudo aquilo?
Não duvido de que nós acreditemos
intelectualmente na presença eucarística. Mas será muito diferente e
maravilhoso se nos deixarmos comover por ela nas profundezas da nossa alma.
Naquele dia, há 15 anos, ficou muito claro
para mim que, nas minhas mãos, estava o Senhor da glória, o Rei dos céus e da
terra, o Juiz Justo e o Rei dos reis. Aliás, o mesmo Jesus que você comunga,
que entra em seu corpo e toma conta do seu ser.
Até o demônio acredita na Eucaristia!
E você?
Original Article:
http://mariadesatadoraeosanjos.blogspot.com/2015/03/o-demonio-diante-da-eucaristia.html.
Nenhum comentário:
Postar um comentário