Tenho agora quase 80 anos. Estou perto do fim
dos meus dias. Olhando para o meu passado, reconheço que na minha juventude eu
segui um mau caminho, um caminho que levou à minha ruína.
Através das revistas, dos espetáculos imorais e
dos maus exemplos na imprensa, eu vi a maioria dos jovens da minha idade seguir
o caminho do mal sem pensar duas vezes. Despreocupado, eu fiz a mesma coisa.
Havia fiéis e cristãos verdadeiramente praticantes à minha volta, mas eu não
lhes dava importância. Eu estava cego por um impulso bruto que me empurrava
para uma forma errada de vida.
Com a idade de 20 anos, eu cometi um crime
passional, cuja memória ainda hoje me horroriza. Maria Goretti, hoje uma santa,
foi o bom anjo que Deus colocou no meu caminho para me salvar. As palavras
dela, tanto de repreensão como de perdão, ainda hoje estão impressas no meu
coração. Ela rezou por mim, intercedeu pelo seu assassino. Quase 30 anos de
prisão se seguiram. Se eu não fosse menor de idade, pela lei italiana, eu teria
sido condenado à prisão perpétua. No entanto, eu aceitei a pena como algo que
eu merecia.
Resignado, eu expiei pelo meu pecado. A pequena
Maria foi verdadeiramente a minha luz, a minha proteção. Com a ajuda dela, eu
cumpri bem esses 27 anos na prisão. Quando a sociedade me aceitou de volta
entre os seus membros, eu procurei viver de forma honesta. Com caridade angélica,
os filhos de São Francisco, os frades capuchinhos menores, receberam-me entre
eles, não como servo, mas como irmão. Tenho vivido com eles há 24 anos. Agora
eu olho serenamente para o dia em que serei admitido à visão de Deus, para abraçar
os meus entes queridos mais uma vez, e para ficar próximo do meu anjo da
guarda, Maria Goretti, e a sua querida mãe, Assunta.
Que todos os que vierem a ler esta carta
desejem seguir o santo ensinamento de fazer o bem e evitar o mal. Que todos
possam acreditar, com a fé dos pequeninos, que a religião e os seus preceitos,
não são algo que se possa prescindir. Pelo contrário, é o verdadeiro conforto e
a única via segura em todas as circunstâncias da vida, mesmo nas mais
dolorosas.
Paz e bem.
Alessandro Serenelli
Macerata, Itália - 5 de Maio de 1961.
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