Numa certa tarde, como faziam
todos os dias nas horas canônicas, os monges estavam reunidos ouvindo as lições
do dia durante. São Jerônimo estava entre eles e ouvia atento. De repente,
todos perceberam que um leão se aproximava. Foi uma correria geral. São Jerônimo
manteve a calma: foi o único. Ele levantou-se e foi encontrar-se com aquele
hospede não convidado... Era um animal enorme que usava somente três patas para
caminhar. A quarta pata ele a trazia levantada. Claro que o leão não poderia
falar, mas dava a impressão de querer comunicar alguma coisa e ofereceu a Jerônimo
a pata que trazia levantada. O monge a examinou e percebeu que o animal estava
gravemente ferido.
Jerônimo chamou o menos
medroso dos monges para ajudá-lo a limpar e cuidar do ferimento que estava em
carne viva, infeccionado e ainda cheio de espinhos. Jerônimo tratou do animal,
retirou-lhe os espinhos e o medicou com unguentos. O animal sarou. Os cuidados
oferecidos ao animal amansaram a "besta fera". O leão passou, então a
caminhar pacificamente pelo mosteiro. Onde estivesse São Jerônimo, junto estava
o animal que se comportava como um animal doméstico.
Jerônimo mostrou aos monges
uma primeira lição do episódio: "Pensem sobre isto e vocês poderão
encontrar lições de vida. Eu creio que não foi tanto para a cura de sua pata
que Deus o enviou até nós, pois, o leão se curaria sem a nossa ajuda. Deus nos
enviou esse leão para mostrar quanto a Providencia estava ansiosa para nos
prover do que necessitamos para nosso bem."
Os monges sugeriram então que
o leão fosse usado para acompanhar e proteger o jumento que carregava a lenha
para o mosteiro. E, por muito tempo, assim foi: o leão guardava o jumento
enquanto este trabalhava. Um dia, porém, o leão dormiu enquanto o jumento
pastava e alguns mercadores que por ali passavam roubaram o jumento. O leão
acordou e passou a procurar o jumento. Procurou todo o dia, sem encontrá-lo.
Voltou para o mosteiro e ficou diante do portão. Parecia ter consciência de sua
culpa: não tinha mais o andar imponente que parecia quando andava ao lado do
burrico.
Alguns monges concluíram que o
leão tinha comido o jumento. E se recusaram a alimentá-lo, enviando de volta
para comece o resto de sua vítima. Será que havia sido o leão que dera cabo do
jumento? Jerônimo mandou que procurassem a carcaça do jumento. Eles não
encontraram nada e não viram sinais de violência. Ao saber disso São Jerônimo
disse: " Eu fico triste com a perda do asno, mas não façam isto com o leão.
Tratem dele como antes, deem comida para ele. Ele fará o serviço do jumento:
deverá trazer em seu lombo a lenha que necessitamos." E assim aconteceu.
O leão regularmente fazia a
sua tarefa, mas continuava a procurar o seu velho companheiro. Um dia do alto
de uma colina e viu na estrada homens montados em camelos e um deles montando
um jumento. O leão foi ao encontro a eles. Aproximando-se, reconheceu o seu
amigo e começou a rugir. Os mercadores assustados correram deixando para trás o
jumento, os camelos e a carga que traziam. Como faria um cão pastor, o leão
conduziu os animais para o mosteiro. Quando os monges viram aquele desfile
inusitada correram até São Jerônimo. E foi até os portões e os abriu dizendo:
"Tirem a carga dos camelos e do jumento, lavem suas patas e deem comida
para eles. Esperemos para ver o que Deus queria mostrar a este seu servo quando
nos deu o leão".
Os monges seguiram as instruções
de Jerônimo. O leão começou a rugir de novo e a balançar sua cauda,
alegremente. Pesarosos por causa do que pensaram sobre o Leão, relembraram um
pensamento conhecido na região: "Irmão, confie na sua ovelha, mesmo que se
por um tempo ela pareça um ganancioso rufião. Deus fará um milagre para curar o
seu caráter".
Jerônimo, sabendo o que iria
acontecer disse: "Meus irmãos, preparem boa água, refrescos e frutas pois,
chegarão novos hóspedes que deverão ser bem tratados'. Tudo aconteceu como o
Santo pediu. E logo um grupo de mercadores estava diante do portão. Embora
tivessem sido bem recebidos pelos monges, correram até São Jerônimo e
prostraram-se a seus pés, pedindo perdão e agradecendo o acolhimento. Jerônimo
ainda disse aos monges: "deem os refrescos a eles e deixem partir com os
seus camelos e suas cargas". Através do Leão, Deus supre as necessidades
do mosteiro.
Os mercadores, como retribuição
e gratidão, ofereceram metade do óleo que os seus camelos carregavam para que
fosse usado nas lâmpadas do mosteiro e ainda deixaram alimentos para os monges.
Então, o chefe dos mercadores ainda disse: "Nós daremos todo óleo que vocês
precisarem durante todo ano e nossos filhos e netos serão instruídos de também
seguirem esta ordem: nada de sua propriedade será jamais tocada por qualquer de
nós ". São Jerônimo aceitou a oferta e os mercadores de sua parte
aceitaram os refrescos e partiram com a benção do Santo, voltaram alegres para
o seu povo.
São Jerônimo, tirando uma lição
de toda essa história, respondeu a pergunta que ele mesmo havia feito
anteriormente: "vejam meus irmãos o que Deus tinha em mente quando nos
mandou o seu leão"!
Esta narração foi adaptada,
para dar uma breve explicação do porque a iconografia costuma apresentar São
Jerônimo com um leão junto dele.
No livro "Vita Divi
Hieronymi" (Migne. P.L., XXII, c. 209ff.) traduzido para o Inglês por
Helen Waddell em "Beasts and Saints" (NY: Henry Holtand Co., 1934), é
onde podemos encontrar essa narração por inteiro.
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