Numa noite do século XIII, São Domingos velava e rezava na
basílica de São Pedro, em Roma, e eis que o Senhor Jesus apareceu, no céu,
tendo na mão três lanças, disposto a atirá-las contra o mundo. A bem-aventurada
Virgem Maria, sua Mãe, prostrando-se de joelhos aos seus pés, suplicava-lhe que
perdoasse aqueles que Ele havia resgatado, e que aplacasse e temperasse a sua
justiça pela sua misericórdia.
Seu Filho lhe dizia: “Não vede as injúrias que eles me
fizeram? Minha justiça não poderia deixar tantos crimes impunes”. E Maria, sua
mãe, respondeu: “Como sabeis, vós que tudo sabeis, existe uma forma de levá-los
a vós. Ei-la: Eu tenho um servo fiel, enviai-o ao mundo. Ele irá anunciar a
vossa Palavra aos homens e eles converter-se-ão e vos irão buscar; tenho outro
servo, que lhe darei como ajuda, e ele irá trabalhar na mesma tarefa”. O Filho
de Deus disse à sua Mãe: “Vossa visão me desarmou; mas, peço-vos que me mostre
aqueles que destinais a uma tão grande missão. (...)
Então, a Mãe de Deus apresentou ao Senhor o bem-aventurado
Domingos. “Eu o aceito ─ disse o Filho de Deus ─, ele fará muito bem e com
muito zelo tudo o que dissestes”. Maria apresentou-lhe, em seguida, o
bem-aventurado Francisco, e o Salvador o aprovou, igualmente.
Ora, o bem-aventurado Domingos, considerando, atentamente,
naquela visão, o companheiro que ele ainda não conhecia, encontrou-o no dia
seguinte, numa igreja e o reconheceu, segundo o que havia visto durante a
noite. Imediatamente, jogou-se em seus braços, e abraçando-o fortemente, junto
ao coração, com santa efusão, disse: “Tu és meu irmão de armas: caminharás
comigo com os mesmos passos, e nenhum inimigo prevalecerá contra nós”.
Em seguida, contou-lhe a sua visão e, a partir de então,
eles passaram a ser um só coração e uma só alma em Deus; e recomendaram a seus
filhos que o mesmo deveria ser feito entre eles, sempre, com todo o amor e
reverência, e aquele gesto tão simples deixou, sobre o oceano dos séculos, um
indestrutível rasto e as duas milícias mendicantes encontraram naquela união, o
símbolo de sua eterna aliança. Este é o motivo pelo qual o Patriarca dos
Pregadores tem, em nós, franciscanos, seu lugar e a ele nós oferecemos,
igualmente, o título de Pai.
Em Les Fleurs Franciscaines (As Flores Franciscanas), 2ª
série, página 187
Nenhum comentário:
Postar um comentário