por
Prof. Felipe Aquino - Doutor em engenharia mecânica, pregador e escritor
São
Paulo mostrou seu desapontamento ao verificar que, apesar da Celebração
Eucarística, havia ainda, na comunidade de Corinto, “muitos fracos e enfermos e
um bom número de mortos” (1Cor 11,30).
Por
exemplo, São Cirilo de Alexandria (370-444) disse: “Se apenas o contato com a
sua santa carne restituía a vida à matéria já deteriorada, quão grande proveito
não haveríamos de tirar da Eucaristia vivificante, quando a recebemos, visto
que não é possível que a Vida não faça viver aqueles aos quais ela se infunde”.
São
João Crisóstomo (344-407), o grande Patriarca de Constantinopla, convidava os
fiéis a “aproximar-se da Eucaristia com fé”, “cada qual com as suas doenças”; e
São Efrém (306-372), doutor da Igreja, exclamava: “Glória ao remédio da vida!”.
Na verdade, dizia: “Cristo corta uma parte do seu próprio corpo; aplica-a à
ferida e cura, como a sua carne e o seu sangue, as chagas”.
O
Papa Leão XIII disse que na Eucaristia “estão concentradas, com singular
riqueza e variedade de milagres, todas as realidades sobrenaturais” (Carta
encicl. Mirae Caritatis).
O
Concílio de Trento (1565-1583) afirmou: “A Eucaristia é o remédio pelo qual somos
livres das falhas cotidianas e preservados dos pecados mortais.” É o próprio
Jesus combatendo em nós contra a “concupiscência da carne e a soberba da vida”.
Sabemos
que a penitência apaga em nós o pecado, mas a tendência ao pecado continua em
nós; a Eucaristia contrabalança essa inclinação ao mal e impede que o demônio
se apodere de nossa alma.
Pela
Eucaristia, unimo-nos com o Santo dos santos e somos n’Ele transformados. Assim
como o ferro vai assumindo sua cor no fogo, pela comunhão vamos assumindo a
“imagem e semelhança” do Senhor. Santo Agostinho explicava que o alimento
eucarístico é diferente dos outros; o alimento comum se transforma em nosso
corpo; mas, na Eucaristia, nós somos transformados pelo Corpo de Cristo.
A
Eucaristia é o alimento espiritual de nossa caminhada para Deus, assim como foi
o maná, que alimentou o povo de Deus por quarenta anos, a caminho da Terra
Prometida. (Ex 8,2-16). Esse maná era apenas uma figura do verdadeiro “pão vivo
descido do céu”, que quem comer “viverá eternamente” (Jo 6,51).
No
discurso sobre a Eucaristia, na sinagoga de Cafarnaum, Jesus deixou claro: “Em
verdade, em verdade vos digo, se não comerdes a carne do Filho do homem e não
beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (v. 53).
Papa
João Paulo II disse: “Não se trata de alimento em sentido metafórico, mas “a
minha carne é, em verdade, uma comida, e o meu sangue é, em verdade, uma
bebida” (Jo 6, 55)”.
Por
meio da comunhão do Seu Corpo e Sangue, Cristo comunica-nos também o Seu Santo
Espírito. Escreve S. Efrém: “Chamou o pão seu corpo vivo, encheu-o de Si
próprio e do seu Espírito. […] E aquele que o come com fé, come Fogo e
Espírito. […] Tomai e comei-o todos; e, com ele, comei o Espírito Santo. De
fato, é verdadeiramente o meu corpo, e quem o come viverá eternamente”.
(Homilia IV para a Semana Santa)
Uma
das Orações Eucarísticas leva o celebrante a rezar: “Fazei que, alimentando-nos
do Corpo e Sangue do Vosso Filho, cheios do Seu Espírito Santo, sejamos em
Cristo um só corpo e um só espírito. (Or. Euc. III). Assim, pelo dom do Seu
Corpo e Sangue, Cristo aumenta em nós o dom do Seu Santo Espírito, já infundido
em nós no batismo e recebido como “selo” no sacramento da confirmação.
Assim
como o corpo não pode ter vida sem comida nem bebida, da mesma forma a alma não
tem a vida eterna sem a Eucaristia, sem o Corpo ressuscitado de Jesus.
No
discurso de Cristo há uma promessa maravilhosa: “Quem come a minha carne e bebe
o meu sangue permanece em Mim e eu nele” (56).
Jesus,
na Última Ceia, insistiu com os discípulos: “Permanecei em mim e eu
permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer
na videira. Assim também vós: não podeis tão pouco dar fruto, se não
permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanecer em mim e
eu nele, essa dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,1-5).
No
fim, Jesus completa dizendo:“Nisto é glorificado meu Pai, para que deis muito
fruto e vos torneis meus discípulos” .
Para
que pudéssemos, então, “permanecer n’Ele”, Jesus nos deixou a Eucaristia, o
maior de todos os milagres do Seu amor por nós. O Seu próprio Ser nos é dado. É
o próprio Jesus ressuscitado que vem a cada um de nós.
Seu
Corpo se funde ao nosso, Sua Alma se une à nossa, Seu Sangue se mistura com o
nosso e Sua Divindade se junta à nossa humanidade. Não pode haver união mais
íntima e mais intensa na face da terra. É o amado (Jesus) que vai em busca da
sua amada (nossa alma) para unir-se a ela. O amor exige a união. E nessa união
Ele nos santifica.
São
Cirilo de Jerusalém disse que, após a comunhão, somos “Cristóforos”, portadores
de Cristo.
“Vinde
a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei” (Mt
11,28). A maneira mais fácil de acolher esse convite amoroso do Senhor é na
Eucaristia.
Antes
de realizar o milagre da multiplicação dos pães, figura da Eucaristia, Jesus
disse aos apóstolos, olhando a multidão: “Não os quero despedir em jejum para
que não desfaleçam no caminho” (Mt 15,32). Aquela multidão faminta O seguia há
três dias pelo deserto. Agora, Ele “multiplica” o Seu próprio Corpo para que
não desfaleçamos na caminhada dura desta vida até a Casa do Pai. Temos mais
necessidade do Pão do céu do que do pão da terra.
Para
estar ao nosso lado e ser nosso remédio e alimento, o Senhor deu-se todo a nós,
sem reservas; é por isso que nós também temos de nos dar a Ele, também sem
reservas, no estado de vida em que estivermos, vivendo segundo Sua vontade. O
amor exige reciprocidade, senão fica inerte.
Na
Eucaristia, Ele é nosso, como dizia Santa Terezinha: “Agora, Jesus, o Senhor é
meu!”. No discurso eucarístico, Ele deixou claro como os Seus discípulos
“permaneceriam n’Ele” para poder dar muitos frutos. E fez questão de enfatizar a importância dessa
união conosco na Eucaristia:
“Assim
como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, também aquele que come a
minha carne viverá por mim” (Jo 6,57).
É
essencial entender esse “viverá por mim”. Isso quer dizer que, com a Sua
presença em nós, Jesus “agirá” em nós, Ele será a nossa força e a nossa paz;
Ele será tudo em nós! A nossa miséria
será trocada pela Sua força. É aquilo
que São Paulo experimentou: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”
(Gal 2,20). São Paulo disse: “Jesus Cristo, vossa vida” (Cl 3, 4).
Pela
Eucaristia Jesus toma posse de nós, torna-nos propriedade d’Ele; devemos,
então, entregar-Lhe totalmente a nossa vida, sejamos casados ou celibatários,
leigos ou clérigos. Assim acontecerá em nós uma nova Encarnação do Verbo que
continuará a dar glória ao Pai como quando vivia entre nós.
A
menor ação de Jesus era divina, porque era ação do Verbo que governava Suas
duas naturezas, a humana e a divina. A natureza humana de Cristo era submissa
ao Verbo. Assim também deve ser com quem comunga: a vontade humana deve ser
serva da vontade do Senhor, guiado pelo Espírito Santo.
Vivendo
em nós pela Eucaristia, Jesus nos enche com os Seus desejos e pensamentos, com
Suas palavras etc. Ele torna-se em nós uma personalidade divina. Nosso Senhor
faz Suas as nossas obras e os nossos atos, de modo que eles se tornam divinos,
imprimindo-lhes um mérito de valor também divino. Assim, nossas obras humanas
sem valor tornam-se revestidas dos méritos de Cristo. E quanto maior for a
nossa união com Ele, tanto mais valor terão nossas obras e tanto maior será a
glória que reverterá para nós.
Jesus
disse: “Eu sou o Pão da Vida” (Jo 6, 35); isto é, Ele, na Eucaristia, é
“sustento e remédio” para nossa vida.
Quem
comunga vive “por Jesus” e com Sua força. Por isso, a piedade sem a comunhão é
fraca. Com a Eucaristia, Jesus carrega o nosso fardo pesado; então podemos
dizer com São Paulo “Tudo posso Naquele que me sustenta” (Fil 4,13). Quer
dizer, é Ele a nossa força e Ele age em nós dando-nos a graça de fazermos
coisas boas e santas; é Ele quem “realiza em nós o querer e o fazer” (Fil 2,
13). São Paulo disse aos filipenses: “Tende os mesmos sentimentos de Cristo”
(Fil 2,5); para isso é preciso alimentar-se de Jesus; assim teremos os Seus
sentimentos e desejos.
Recebemos
a Vida no batismo e a recuperamos pela penitência (confissão) após os pecados.
Não bastam a oração e a piedade para enfrentarmos as lutas que o inferno nos
prepara, é preciso mais, é preciso a Eucaristia.
Quantos
são os que se lembram de que Ele está vivo, ressuscitado verdadeiramente em
nossos sacrários? Ali, “prisioneiro dos nossos sacrários”, Ele nos espera com
as mãos cheias de graças. O Papa Bento XVI, em sua primeira encíclica, disse
que “Deus nos amou primeiro” e que amar a Deus e aos irmãos já não é apenas um
mandamento, mas uma necessária retribuição de amor de nossa parte.
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