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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A FÉ DIANTE DO TRIBUNAL DA RAZÃO



por Thiago de Oliveira Geraldo - 2011/06/24
(Revista Arautos do Evangelho, Junho/2011, n. 114, p. 18 à 23)

Para cumprir o encargo de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo por todo o mundo, os primeiros cristãos tinham necessidade de adaptar-se à cultura de seus ouvintes. O Apóstolo das Gentes realizou isso de forma admirável em seu discurso no Areópago de Atenas.
Fazendo parte da planície da Ática, com seu solo rochoso e pouco fértil, Atenas viu nascer em seu seio insignes pensadores cujos nomes reboam no mundo da cultura há mais de dois mil e quinhentos anos. Ali floresceram, nos séculos V e IV a.C., três figuras de proa da Filosofia: Sócrates, Platão e Aristóteles, o último dos quais recebeu de notáveis estudiosos elogios como este: "Mais do que ‘o mestre daqueles que sabem', como o reconhecia Dante, Aristóteles merecia ser chamado de o inspirador daqueles que questionam, em todos os campos do saber, da ação, da produção".1 Ou ainda como este outro, do qual poderia se ufanar o mais prestigioso dos intelectuais hodiernos: "Poucos homens fundaram uma ciência; afora Aristóteles, nenhum fundou mais de uma".2

"MAIS FÁCIL ENCONTRAR UM DEUS DO QUE UM SER HUMANO"

Durante séculos, defrontavam-se em Atenas expoentes de diversas escolas de pensamento nos campos do saber, da moral, da política. Havia também nessa cidade banhada pelo Mar Egeu, como em toda a Grécia antiga, um confronto entre as crenças politeístas e o rigor do pensamento puramente humano, levando a intermináveis discussões acerca das divindades e da origem do mundo. "Em Atenas é mais fácil encontrar um deus do que um ser humano" 3, ironizava Petrônio, escritor romano do primeiro século. E no século seguinte, o escritor grego Pausânias assim qualificava os atenienses: "eles são também mais piedosos que os outros povos".4
Nesse contexto de acirradas disputas culturais e religiosas, imagine- -se qual deveria ser o espírito de fé e a capacidade intelectual de um cristão para anunciar de modo convincente a Boa Nova na metrópole das ciências, a pensadores de diversas escolas filosóficas, dotados de agudo senso crítico e hábeis na esgrima da dialética.
Essa missão a Providência Divina confiou-a ao Apóstolo das Gentes, "o homem que Deus chamou e enviou para empreender a difusão universal do Cristianismo".5

DISPUTAS DIÁRIAS COM JUDEUS E GREGOS

Varão de rija têmpera, acostumado aos sacrifícios e às adversidades, São Paulo pregava denodadamente o Evangelho de Jesus Cristo em todos os lugares aonde o conduzia seu zelo apostólico. E sua audácia missionária não esmoreceu quando se viu obrigado a permanecer alguns dias em Atenas, à espera de Silas e Timóteo, para juntos continuarem viagem até Corinto.
Mesmo estando nela de passagem, como permanecer naquela cidade sem evangelizar? Impossível para aquele que falou de si mesmo: "Anunciar o Evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade que se me impõe. Ai de mim se não anunciar o Evangelho!" (I Cor 9,16).
Quanto ao ambiente que São Paulo encontrou na capital da cultura, escreve um abalizado exegeta: "A cidade carecia naquele tempo de importância política, e mesmo comercialmente tinha decaído muito; mas continuava sendo ‘a pupila da Grécia' (Filon), ‘a tocha de toda Grécia' (Cícero). Como sede das grandes escolas filosóficas e berço da mais refinada cultura grega, destacava-se sobre as demais cidades do Império Romano e exercia irresistível força de atração sobre quantos aspiravam a adquirir ciência e cultura, especialmente sobre a juventude da nobreza romana".6
No entanto, a primeira reação do Apóstolo quando tomou contato com a realidade ateniense foi de aversão: "Enquanto esperava Silas e Timóteo, em Atenas, Paulo ficou revoltado ao ver aquela cidade entregue à idolatria" (At 17, 16). Sua indignação, fruto da fé, aumentava nele o desejo de aproveitar a ocasião para anunciar Jesus Cristo crucificado àqueles adoradores de ídolos. E São Paulo sabia adaptar-se ao público que o ouvia.
Nas missões realizadas pouco antes em várias cidades, pregou nas sinagogas a judeus, revelando-se exímio conhecedor das Escrituras e demonstrando, com base nelas, ter sido necessário que Cristo padecesse e ressurgisse dos mortos (cf. At 17, 3). Em Atenas habitavam também alguns judeus, mas o ardoroso evangelizador percebia bem que ali a imensa maioria de seus ouvintes seria constituída por gregos, cuja mentalidade era bem diferente da dos israelitas. E lançou-se logo à conquista de almas também nesse campo, pois como narram os Atos dos Apóstolos, São Paulo disputou "na sinagoga com os judeus e prosélitos, e todos os dias, na praça, com os que ali se encontravam" (At 17, 17).

HOMENS INSACIÁVEIS DE NOVIDADES

Entre aqueles que ouviram São Paulo na ágora - nome com o qual os gregos denominavam a praça principal da cidade, onde ocorriam as discussões políticas - havia filósofos epicuristas e estoicos. Os primeiros tinham a fruição dos prazeres por principal finalidade da existência e, em consequência, fugiam da dor o quanto podiam; eram materialistas, mas não negavam a existência dos deuses, os quais, entretanto, raramente interferiam na vida dos homens. Para os segundos, ao contrário, a autossuficiência e a impassibilidade diante da dor eram tomadas como grandes virtudes.
Ao ouvirem a pregação daquele estrangeiro, alguns filósofos debicavam dele, chamando-o de spermológos, ou seja, charlatão ou tagarela. Outros lhe faziam uma das acusações que cinco séculos antes levaram Sócrates à morte nessa mesma cidade: a de propagar o culto a deuses estrangeiros. Porque São Paulo pregava Jesus e a Anástasis (Ressurreição), nomes que soavam para eles como um par de divindades. Conduziram-no então ao Areópago, antigo tribunal de Atenas, no qual se julgavam também questões religiosas e morais. Era ele, além de órgão jurídico, ponto de reunião dos atenienses e forasteiros que, nessa época, "não se ocupavam de outra coisa senão a de dizer ou de ouvir as últimas novidades" (At 17, 21).
Essa sede insaciável de novidades facilitava a atuação do Apóstolo: todos se mostravam ávidos de conhecer o que aquele estrangeiro teria a lhes dizer. Como começaria ele seu discurso perante o exigente auditório, constituído pelos representantes da mais elevada cultura?
Tratando-se de gentios, de nada adiantaria apresentar-lhes argumentos extraídos das Sagradas Escrituras. "Os primeiros cristãos, para se fazerem compreender pelos pagãos, não podiam citar apenas ‘Moisés e os profetas' nos seus discursos, mas tinham de servir-se também do conhecimento natural de Deus e da voz da consciência moral de cada homem"7 - observa o Beato João Paulo II.
Na cidade de Tarso, lugar de passagem para o comércio na Ásia, o jovem Saulo certamente não recebeu apenas a formação judaica tradicional, mas deve ter estudado também disciplinas helênicas, como a retórica. Em suas escolas, além da alfabetização, os alunos aprendiam ginástica e música.

PROCLAMAÇÃO DA FÉ COM SABEDORIA E SAGACIDADE

Chegara para o Apóstolo dos Gentios o momento de colocar a serviço da Fé aquilo que aprendera com a própria cultura grega. "O viver numa cidade helenista e a educação helenístico-judaica do jovem Paulo conferiram-lhe a competência para, mais tarde, como cristão, poder utilizar com autonomia e como patrimônio próprio, o espírito e a tradição do helenismo".8
Adaptou suas palavras ao público (Estratégia-01) que tinha diante de si e, contendo a indignação que lhe causara a idolatria dos atenienses, começou por lhes elogiar a religiosidade (Estratégia-02). Assim agindo, comenta o Beato João Paulo II, revelou sabedoria e sagacidade: "O Apóstolo põe em destaque uma verdade que a Igreja sempre guardou no seu tesouro: no mais profundo do coração do homem, foi semeado o desejo e a nostalgia de Deus".9
No entanto, seu olhar perscrutador captara um detalhe que lhe serviu para introduzir o tema de sua pregação. "Percorrendo a cidade e considerando os monumentos do vosso culto, encontrei também um altar com esta inscrição: ‘A um Deus desconhecido' (Estratégia-03). O que adorais sem o conhecer, eu vo-lo anuncio!" (At 17, 23). Sobre isto, comenta o estudioso Schökel: "O exórdio, como entrada na matéria, é magistral. Como um cumprimento cortês e ambíguo, que se transforma em crítica, e sabe perceber um valor profundo".10

A religiosidade dos gregos, entretanto, se orientava por uma perspectiva fortemente politeísta e pagã, estando a profusão de divindades, por eles cultuadas, vinculada às diversas vicissitudes que a vida apresenta. Os atenienses imaginavam que por trás de cada acontecimento havia sempre a ação de um deus, e temiam que desgraças lhes sobreviessem por causa de algum culto omitido ou mal realizado. Daí seu empenho em erigir altares até ao "deus desconhecido", como explica Fillion: "Habituados a ver em tudo, especialmente nas circunstâncias perigosas (guerras, tremores de terra, doenças, etc.), a manifestação da divindade, e sempre temendo ofender a algum deus desconhecido, eles recorriam a este meio para tornar propícios todos os deuses, grandes e pequenos, dos quais podiam temer um ato de vingança ou esperar um benefício".11

TAMBÉM NÓS SOMOS DA RAÇA DE DEUS

Na sequência do discurso, o Apóstolo arremete contra a idolatria: Deus, criador de tudo quanto existe, Senhor do Céu e da Terra, "não habita em templos feitos por mãos humanas", e de nada necessita, pois é Ele quem "dá a todos a vida" (cf. At 17, 24-25). Logo em seguida, lança um argumento alentador: o Deus vivo e verdadeiro não é um ser inacessível aos homens; pelo contrário, Ele nos incita a procurá-Lo, ainda que "às apalpadelas", porque na realidade Ele "não está longe de cada um de nós" (cf. At 17, 27).
Com o objetivo de aumentar o efeito de suas palavras perante aqueles ouvintes cultos e eruditos, São Paulo cita um verso do poeta grego Arato (séc. III a.C.) para afirmar que "também nós somos da raça de Deus" (At 17, 29).12 Valendo-se desse dito, o Apóstolo das Gentes mostra aos atenienses como é pouco sábio, para quem é "da raça de Deus", adorar imagens esculpidas por mãos humanas (Estratégia-04).
Entrando no ponto central de seu discurso, São Paulo apresenta um argumento especialmente sensível para quem fazia parte do tribunal do Areópago: Deus os convida a se arrependerem da idolatria, "porquanto fixou o dia em que há de julgar o mundo com justiça" (At 17, 31). Contudo, ao contrário do que acontece nos tribunais humanos, a advertência quanto a esse julgamento divino vinha unida à esperança de um grande perdão (Estratégia-05), como observa um conceituado exegeta do século XX: "Trata-se de uma oferta que Deus faz de sua graça e de seu perdão da vida anterior, transcorrida no pecado, a fim de que os homens possam superar o juízo".13
Até aqui, São Paulo fazia seu anúncio da Fé em termos principalmente filosóficos, mas chegara o momento de entrar no cerne da questão: Cristo ressuscitou dentre os mortos (Estratégia-06). Essa Ressurreição tantas vezes pregada por ele, como se lê nos últimos capítulos dos Atos dos Apóstolos, talvez seja o que mais lhe tenha causado acusações e perseguições. Assim o afirma o dominicano Michel Gourgues: "A fé na Ressurreição de Jesus e a esperança na ressurreição dos mortos se apresentam com insistência como o objeto central da Fé e da pregação cristã e como o principal motivo das oposições e das acusações contra Paulo".14
De tal forma São Paulo deu por toda parte testemunho da Ressurreição de Cristo que ele bem merecia ser cognominado Apóstolo da Ressurreição. "A aparição de Cristo ressuscitado a Paulo perto de Damasco é a vivência clave para a fé e para o ensinamento do Apóstolo".15 Como poderia ele, então, calar-se a respeito desse fabuloso acontecimento?
No entanto, quando o ouviram falar de ressurreição dos mortos, alguns de seus ouvintes caçoaram dele e outros interromperam o discurso, dizendo ironicamente: "A respeito disso te ouviremos ainda uma outra vez" (At 17, 32).
Assim, pois, os gregos que acreditavam na imortalidade da alma não foram capazes de aceitar a ressurreição dos mortos, algo que ultrapassava os limites de sua razão, e por isso zombaram do Apóstolo e de sua doutrina. Mas, esses mesmos apologistas da sabedoria e da lógica não conseguiam perceber a irracionalidade que supunha adorar deuses feitos de ouro, prata, pedra ou madeira, produtos da arte e da imaginação do homem.

FRACASSOU A PREGAÇÃO DE PAULO NO AREÓPAGO?

Aparentemente, sim. Alguns comentaristas, inclusive, foram levados a pensar que a carta escrita anos mais tarde para a comunidade de Corinto reconheceria o insucesso deste discurso: "Também eu, quando fui ter convosco, irmãos, não fui com o prestígio da eloquência nem da sabedoria anunciar-vos o testemunho de Deus. Julguei não dever saber coisa alguma entre vós, senão Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado. [...] A minha palavra e a minha pregação longe estavam da eloquência persuasiva da sabedoria" (I Cor 2, 1-2.4a). (Estratégia-07)
Na realidade, São Paulo não fez em vão essa sua ufana proclamação de fé na Ressurreição de Cristo. Em primeiro lugar, seu exemplo serve de precioso estímulo para todos quantos são chamados a anunciar o Evangelho nos areópagos paganizantes de todos os tempos e cidades. Além disso, "alguns homens aderiram a ele e creram: entre eles, Dionísio, o Areopagita, uma mulher chamada Damaris; e com eles ainda outros" (At 17, 34).
Dos outros convertidos, pouco ou nada se sabe. Mas prestemos atenção no cognome de Areopagita, que indica se tratar de um membro da elite intelectual e judiciária da Grécia. Com efeito, "este título supõe que Dionísio fosse um personagem muito influente, pois segundo as leis de Atenas, chegava-se a esta elevada posição somente após ter ocupado outro posto oficial importante e atingido a idade de sessenta anos".16
Assim São Dionísio Areopagita entrou na História como um modelo de pensador convertido, que não precisou renegar sua cultura e ciência para tornar-se cristão. Pelo contrário, suas notáveis qualidades intelectuais e a vastidão dos seus conhecimentos jurídicos e filosóficos foram postos ao serviço da Igreja e marcaram, sem dúvida, seu ministério episcopal como primeiro Bispo de Atenas.

A FÉ CRISTÃ AUTÊNTICA NÃO CERCEIA A RAZÃO

O mesmo ocorre com qualquer povo ou nação que resolva abrir suas portas às benéficas influências da Igreja. Ensina, a este respeito, o Bem-aventurado João Paulo II: "O anúncio do Evangelho nas diversas culturas, ao exigir de cada um dos destinatários a adesão da Fé, não os impede de conservar a própria identidade cultural".17
São Paulo mostrou-se fiel ao anúncio da Boa Nova, adaptando-se às circunstâncias concretas que teve de enfrentar em Atenas; fiel também foi Dionísio, ao receber humildemente a Revelação. Pois, como nos ensina o Papa Bento XVI, a tendência moderna de considerar verdadeiro somente o experimental cerceia a razão humana. A autêntica Fé cristã não impõe limites à razão. Ao contrário, encontrando-se e dialogando, ambas podem expressar-se melhor. "A fé supõe a razão e aperfeiçoa-a, e a razão, iluminada pela fé, encontra a força para se elevar ao conhecimento de Deus e das realidades espirituais. A razão humana nada perde abrindo-se aos conteúdos da fé, aliás, eles exigem a sua adesão livre e consciente".18
Notas:
1 STIRN, François. Compreender Aristóteles. Petrópolis: Vozes, 2006, p.11.
2 BARNES, Jonathan. Aristóteles. 2.ed. São Paulo: Loyola, 2001, p.137.
3 PETRÔNIO, apud GOURGUES, Michel. El evangelio a los paganos. Estella: Verbo Divino, 1990, p.54.
4 PAUSÂNIAS, apud GOURGUES, op. Cit., p.54. Idem, ibidem.
5 CASCIARO, José María. Nuevo Testamento: traducción y notas. Pamplona: EUNSA, 2004, p.873.
6 WIKENHAUSER, Alfred. Los hechos de los apóstoles. Barcelona: Herder, 1973, p.287-288.
7 JOÃO PAULO II. Fides et ratio, n.36.
8 BECKER, Jürgen. Apóstolo Paulo, vida, obra e teologia. São Paulo: Academia Cristã, 2007, p.90.
9 JOÃO PAULO II, op. Cit., n.24.
10 SCHÖKEL, Luis Alonso. Biblia del Peregrino: Nuevo Testamento. Bilbao: Ega - Mensajero, 1996, t.III, p.348.
11 FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible. Paris: Letouzey et Ané, 1912, t.VII, p.741.
12 Assim se exprimia o poeta, em seu poema Fenómenos: "Que todo canto comece por Zeus! Nunca deixemos, mortais, seu nome sem louvor. Tudo está cheio de Zeus: as ruas e praças onde se reúnem os homens, o amplo mar e os portos; em qualquer lugar aonde vamos, todos necessitamos de Zeus. Somos, inclusive, de sua raça" (ARATO, apud GOURGUES, op. cit., p.56).
13 WIKENHAUSER, op. cit., p.307.
14 GOURGUES, op. Cit., p.60.
15 CASCIARO, op. Cit., p.883.
16 FILLION, op. cit., p.743.
17 JOÃO PAULO II, op. Cit., n.71.
18 BENTO XVI. Angelus, 28/1/2007.

A PROCISSÃO SECULAR do SANTUÁRIO de NOSSA SENHORA dos REMÉDIOS - LAMEGO/PORTUGAL (sec. XV)


Uma procissão de Nossa Senhora com autorização especial da Santa Sé

No século XV existia, em Lamego, cidade de Portugal, perto do local onde se ergue atualmente, o Santuário, uma pequena ermida dedicada a Santo Estevão. No século XVI, o bispo de Lamego, Dom Manuel de Noronha, encomendou a Roma, "cidade santa" uma imagem da Virgem que remediava todos os males e colocou-a numa nova capela que mandou construir em lugar da antiga ermida de Santo Estevão.

A partir de então, o culto da Senhora dos Remédios não deixou de crescer e no século XVIII iniciou-se a construção do majestoso santuário que lhe foi dedicado.

Todos os anos, entre finais de agosto e meados de setembro, Lamego fica em festa, fazendo coincidir as Festas da Cidade com a "Romaria de Portugal" dedicada à sua Padroeira. Às festividades acorrem centenas de milhares de pessoas, que durante três semanas podem assistir a espetáculos, exposições, concertos, desfiles, arraiais, eventos culturais e desportivos. Nos dias que precedem a romaria, as festividades incluem uma luminosa marcha, onde desfilam carros alegóricos e uma batalha de flores.

A procissão do Triunfo é o momento mais simbólico de toda a festa. O enorme andor com a imagem da Senhora dos Remédios é transportado num carro engalanado, puxado por juntas de bois. Para tal, existe a autorização especial da Santa Sé, tornando Lamego o único local do mundo católico onde se pode ver uma imagem da Virgem transportada por animais.

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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

NAPOLEÃO e a SANTA VIRGEM DE ANCONA (ITÁLIA) !!!


A partir de 25 de junho de 1796, a Madonna da Catedral de Ancona, na Itália, começou a abrir os olhos e a olhar para a multidão, durante a Ladainha de Nossa Senhora. O fenômeno foi reproduzido durante mais de cinco meses.

Mas Napoleão, imperador dos franceses, que ocupou Ancona no dia 10 de fevereiro de 1797, mandou que a imagem da Madonna fosse levada para estudo. Diante de seu Estado-Maior e de vários notáveis da cidade, queria examinar a tela minuciosamente. Incrédulo, Napoleão tem a sua atenção atraída pelo belo colar de pedras preciosas que ornamenta o pescoço da imagem de Maria. Disse ele: “Isto será vendido e o que for arrecadado será gasto em beneficência, para o enxoval de casamento de uma jovem órfã”. Aproxima-se e estende a mão para pegar o colar. Nesse momento, a expressão do seu rosto se altera, e ele fica estupefato. Tendo constatado, ele próprio o prodígio, depois de alguns momentos de silêncio, recolocou a fitinha no lugar e ordenou que a imagem fosse reconduzida ao seu altar, escoltada pela guarda de honra, esquecendo o que havia projetado inicialmente; despojá-las das jóias e queimá-la, como havia solicitado um grupo de partisans (partidários), seguindo a sua máxima: – “É preciso fazer justiça e castigar todo tipo de fanatismo e enganação”.

O historiador Mario Natalucci relatou este prodígio na obra intitulada "Ancona Attraverso i Secoli" (Ancona através dos séculos), publicada em 1961.

Passos Nº 58, Fevereiro de 2005, Maria na História – 7. Napoleão barrado pelo olhar de Maria, por Paola Bergamini
Maria Regina – Avril 1968
Narrado pelo Frei Albert Pfleger
Em Fioretti de la Vierge Marie, Ephèse Diffusion, p. 108-109.

sábado, 6 de dezembro de 2014

34 HISTORIAS reais sobre a SANTA MISSA por São Leonardo Porto-Maurício (conforme a edição romana de 1737 dedicada a S.S. o Papa Clemente XII)

Por São Leonardo Porto-Maurício
(Do Livro: EXCELÊNCIAS da SANTA MISSA de 1737)
I
O bem-aventurado João, o Bom, de Mântua, levou um eremita seu companheiro a compreender esta verdade. Este não conseguia persuadir de que a palavra de um padre tivesse o poder de mudar a substância do pão, no Corpo de JESUS CRISTO, e a do vinho em seu Sangue; e, o que é mais deplorável, tinha cedido a essa tentação diabólica. O servo de DEUS percebeu o erro do companheiro, e, conduzindo-o a beira de uma fonte, aí encheu de água uma taça e deu-lhe de beber.
Depois de sorver toda a água, o outro confessou que jamais, em toda a sua vida, provara um vinho tão delicioso. Então João, o Bom, disse-lhe: “Não vedes o milagre, meu querido irmão?
Se, por meio de um miserável como eu, a água se mudou em vinho pela onipotência divina, quanto mais deveis crer, por meio das palavras do sacerdote, que são palavras de DEUS, o pão e o vinho mudam-se no Corpo e Sangue de JESUS CRISTO?
Quem ousaria jamais pôr limites à onipotência de DEUS?”
Bastou isso para dissipar o engano do eremita, que, expulsando de seu espírito toda a dúvida, fez grande penitência por seu pecado.
II
Um espírito, falando pela boca de uma pessoa, fez com que um judeu incrédulo compreendesse esta verdade, por meio de uma comparação material e grosseira. O homem achava-se numa praça com muitas pessoas, entre as quais a mulher possessa. Nesse momento passou um padre que levava o Santo Viático a um doente. Todos os presentes se ajoelharam e prestaram homenagem ao Santíssimo Sacramento. Só o judeu ficou imóvel e não deu sinal algum de respeito. Vendo isso, a mulher levantou-se furiosa, arrancou-lhe o chapéu e deu-lhe um vigoroso bofetão, dizendo-lhe. “Desgraçado, porque não te prostras diante do verdadeiro DEUS presente neste Divino Sacramento?” – “Que DEUS?”, replicou o judeu. “Se fosse verdade, a consequência seria haver muitos deuses, pois, ao celebrarem a Santa Missa ele estaria em cada um dos vossos altares”.
A estas palavras, o espírito, que habitava naquela mulher, tomou um crivo e opondo-se ao sol, disse ao judeu que olhasse os raios filtrando-se pelos buracos. Em seguida ajuntou: “Dize-me, judeu, há então muitos sóis passando pelas aberturas deste crivo, ou um só?” E, à resposta do judeu de que não havia senão um sol, a mulher replicou. “Por que te espantas, então, de que DEUS, feito Homem e feito Sacramento, possa ter, por um excesso de amor, uma presença real e verdadeira sobre vários altares, permanecendo, no entanto, uno, indivisível e imutável?” Foi o suficiente para confundir a incredulidade do judeu, que por esse raciocínio se viu constrangido a confessar a verdade de nossa Fé.

III

Para isto, quando participamos da Santa Missa, devemos imitar Afonso de Albuquerque. Achando-se, com sua frota, em perigo de naufragar numa horrível tempestade, teve uma inspiração: tomou nos braços uma criança que viajava em sua nau, e, elevando-a ao alto, exclamou: “Se todos somos pecadores, esta criaturinha é certamente sem mácula, Ah! Senhor por amor deste inocente compadecei-vos dos culpados!” Acreditareis? A vista dessa criança inocente agradou tanto a DEUS, que Ele acalmou o mar e devolveu a alegria àqueles infelizes, gelados já pelo terror da morte certa.

IV

Conta-se de uma santa alma que, totalmente abrasada de amor a DEUS, traduzia em mil desejos o ardor de sua ternura: “Ah! meu DEUS, dizia ela, quisera ter tantos corações e tantas línguas como há de folhas nas árvores, de átomos no ar e de gotas d´água, para vos amar e louvar como mereceis. Oh! Se eu tivesse em meu poder todas se consumissem de amor por vós, contanto que eu vos amasse mais que todas juntas, mais que todos os Anjos, os Santos e todo o Paraíso!” Certo dia em que tal desejo repetia com mais fervor do que nunca, ouviu o SENHOR responder-lhe: “Consola-te, minha filha, pois com uma só Missa que participas com devoção, dás-me toda esta glória que me desejas, e ainda mais infinitamente.”

V

Narra São Gregório que uma pobre mulher encomendava a celebração de Santas Missas, todas as segundas-feiras, em ação de graças, para o seu marido, que ela julgava morto, pois ele caíra nas mãos dos bárbaros. Estava vivo, porém, e durante o tempo em que se celebravam essas Santas Missas, a cadeias se lhe soltavam dos pés e das mãos e lhe caíam as algemas, e ele ficava livre e desembaraçado, como, ao libertar-se da escravidão, pôde contar a sua mulher.

VI

A venerável irmã Francisca Farnese vivia em contínuos tormentos de amor, por se ver inteiramente cumulada de benefícios divinos, sem encontrar o meio de depor tão pesado fardo, dando ao Senhor um
reconhecimento suficiente. Certo dia apareceu-lhe a Santíssima Virgem e, depondo-lhe nos braços o divino infante, disse-lhe: “Toma-O, Ele é teu, e saibas dele servir-te, pois com Ele pagarás todas as tuas dívidas.

VII

Podemos dizer, por isso, que a Santa Missa é o sol do gênero humano espalhando seus raios sobre os bons esobre os maus, e alma não há tão pérfida sobre a terra, que assistindo à Santa Missa, dela não aufira qualquer grande bem, e muitas vezes mesmo sem nele pensar ou pedi-lo. Santo Antonino conta que um dia dois jovens libertinos passeavam numa floresta. Um deles havia assistido à Santa Missa e o outro não. Levantou-se subitamente furiosa tempestade, e no meio dos trovões e relâmpagos ouviram eles uma voz que clamava: “Mata! Mata!” No mesmo instante o raio esbraseou o ar e feriu aquele que não assistira à Santa Missa. O companheiro apavorado, prosseguiu o caminho buscando um refúgio, quando ouviu novamente a mesma voz, que repetia. “Mata! Mata!” O pobre rapaz nada mais esperava senão a morte. Uma outra voz, porém, respondeu: “Não posso, pois ele assistiu à Santa Missa. A Santa Missa a que ele assistiu impede-me de feri-lo.” Oh! Quantas vezes DEUS não vos livrou da morte, ou, pelo menos, de numerosos e graves perigos, graças às Santas Missas a que tiverdes assistido! Disso nos assegura São Gregório no quarto de seus Diálogos: Per auditionem Missae homo liberatur a miltis malis at periculis, diz o santo Doutor. “Sim, é verdade que aquele que assiste devotamente à Santa Missa será preservado de muitos males e perigos, se bem que disto não se aperceba.” Santo Agostinho chega a afirmar a preservação da morte súbita, o golpe mais terrível com que a Justiça Divina fere os pecadores.

VIII

Existe certa crença, por alguns atribuída a Santo Agostinho, de que durante o tempo em que se assiste à Santa Missa não se envelhece, mas a força e o vigor do fiel se ocupa saber se isto é ou não verdade, mas digo sem receio que, mesmo envelhecendo em idade, não se envelhece me malícia, pois, na expressão de São Gregório, uma pessoa que assiste com devoção à Santa Missa conserva sua alma no caminho reto.

IX

Foi o que verificou uma mulher de má vida em Roma. Inteiramente esquecida de sua salvação, não pensava senão em satisfazer suas paixões, e servia de agente de satanás para corromper a mocidade. Já não fazia nenhuma boa ação, a não ser encomendar quase todos os dias uma Santa Missa pelas almas do Purgatório. Oh! Essas almas, como se pode crer piedosamente, oraram tão bem por sua benfeitora, que um belo dia, tomada de profunda contrição de suas faltas, ela abandonou sua casa infame, foi prostrar-se aos pés de um zeloso confessor, fez sua confissão geral e pouco tempo depois morreu em consoladoras disposições que todos ficaram persuadidos de sua salvação eterna. Esta graça tão admirável foi atribuída à eficácia das Santas Missas que ela encomendava pelas lamas do Purgatório.

X

Santo Anselmo vos ensina que uma única Santa Missa assistida ou celebrada por vossa intenção durante vossa vida, vos será talvez mais útil que mil depois de morrerdes. Bem compreendera esta verdade aquele rico mercador de Gênova que ao morrer, não deixou nenhuma disposição para assegura-se sufrágios. Todos se admiravam de que um homem tão rico, tão piedoso e generoso para com todo mundo, tivesse sido tão cruel consigo. Mas, terminados os funerais, encontraram-se lançadas, em um de seus livros de contas, as grandes caridades que fizera por sua alma durante a vida. “Missas celebradas por minha alma, dois mil escudos; para o casamento das jovens, dez mil; para tal santuário, duzentos, etc.” E no fim lá estava escrito: “Porque quem deseja o próprio bem, faça-o a si durante a vida, e não conte com os outros para que lho façam depois de morto.” É provérbio bastante conhecido que uma vela à frente clareia mais que uma tocha atrás

XI

Era opinião de São João Crisóstomo, opinião aprovada e confirmada por Gregório, no quarto de seus Diálogos, que, no momento em que o padre celebra a Missa, os céus se abrem, e multidões de Anjos descem do Paraíso para assistir ao santo Sacrifício. São Nilo abade, discípulo do mesmo São Crisóstomo, afirma que via, quando este santo doutor celebrava, uma grande multidão daqueles espíritos celestes assistindo os ministros sagrados em suas augustas funções.

XII

No testemunho de Cesário, quando ele celebrava a Santa Missa, após o Evangelho virava-se para o povo e o exortava a um piedoso recolhimento e impunha a todos guardar o mais rigoroso silêncio, não só proibindo a menor palavra, mas ainda abstendo-se de tossir ou fazer qualquer ruído. E era obedecido. Quem quer que assistisse à Santa Missa do santo Bispo, sentia-se tomado de profundo respeito e comovido até ao fundo da alma, tirando assim grande proveito e acréscimo de graças

XIII

Mas como encontravam estes Santos tantas delícias espirituais na celebração da Santa Missa! É que celebravam como se estivessem em presença de toda a corte celeste. Assim acontecia realmente a São Bonet, Bispo de Clermont. Uma noite em que ficara sozinho na Igreja, apareceu-lhe a Santíssima Virgem rodeada de uma multidão de Santos. Alguns dentre eles perguntaram à augusta Rainha quem devia celebrar a Santa Missa. “Bonet, o meu servo bem-amado”, respondeu ela. O santo Bispo, ouvindo pronunciar seu nome, recuou assustado, buscando esconder-se, e a parede de pedra, sobre a qual se apoiou, por um grande milagre, amoleceu; a forma de seu corpo aí ficou impressa e ainda se pode ver. Sua humildade só lhe serviu para o tornar mais digno. Teve de celebrar em presença da Santíssima Virgem, com assistência de todos aqueles cidadãos do Céu. Depois da Santa Missa a Santíssima Virgem Maria, deu lhe uma alva de fulgente brancura e de estofo tão fino como não se pode encontrar nenhum comparável. Ainda hoje se venera esta alva como preciosa relíquia. Com que modéstia, pergunto-vos, com que recolhimento e amor não terá ele celebrado aquela Santa Missa

XIV

A gloriosa Santa Mectilde viu a alma de um irmão leigo envolta em deslumbrante claridade por ter-se empregado com extremo fervor em servir em todas as Santas Missas que pudera.

XV

São Tomás de Aquino, o sol da Escolástica, conhecia bem o valor inestimável deste ofício de servir no divino Sacrifício, e não se dava por satisfeito se, depois de ter celebrado a Santa Missa, não ajudava outra

XVI

São Tomás More, chanceler da Inglaterra, punha suas delícias nesta santa função; e certo dia, admoestado por um grande do reino que lhe avisava de que o rei Henrique veria com desprazer ação tão pouco digna dum primeiro ministro, respondeu: “Não pode segredar a meu senhor, o rei, que eu sirva o Senhor de meu rei, o qual é o Rei dos reis e o Senhor dos senhores.”

XVII

Constantino Magno não só assistia todos os dias à Santa Missa, mas, quando partia em qualquer expedição, em pleno fragor da guerra e ruído das armas, fazia-se acompanhar dum altar portátil no qual mandava celebrar diariamente a Santa Missa, e por este meio alcançou retumbantes vitórias.

XVII

O Imperador Lotário observava sempre a mesma prática. Em tempos de paz como de guerra, fazia questão de assistir, todos os dias, a três Santas Missas.

XVIII

O piedoso Henrique III, rei da Inglaterra, assistia, do mesmo modo, a três Santas Missas diárias, para grande edificação de sua corte.

XIX

basta considerar a grande alma de Maria Clementina, a piedosa rainha cuja perda Roma ainda chora. Como ele se dignou dizer-me muitas vezes, punha todas as suas delícias em assistir ao Divino. Sacrifício e todos os dias assistia a todas as Santas Missas que podia. Mantinha-se imóvel, sem almofadas, sem apoio, como uma estátua.
E por esta devota assistência à Santa Missa, acendeu-se em seu coração amor tão ardente a JESUS-Hóstia, que se esforçava por assistir diariamente a três ou quatro bênçãos do Santíssimo Sacramento. Sua carruagem percorria a toda a velocidade as ruas de Roma, a fim de permitir-lhe chegar a tempo nas diversas igrejas. E quantas lágrimas derramou esta santa mulher para mitigar a fome que tinha de pão dos Anjos, fome tão veemente que lhe causava enlanguescimento noite e dia, porque seu coração se achava a todo instante transportado aonde estava seu tesouro.

XX

o exemplo da São Venceslau, rei da Boêmia, que todos devem imitar, se não em tudo, ao menos na medida do possível. Este Santo rei, não contente em assistir diariamente a muitas Santas Missas, de joelhos sobre o chão duro,e de servir aos padres no altar, com mais humildade que um seminarista, presenteava, ainda, as igrejas com as jóias mais preciosas de seu tesouro e as mais ricas tapeçarias de seu palácio.
Costumava, além disso, confeccionar, com suas próprias mãos, as hóstias destinadas ao santo Sacrifício.
Para este fim e sem receio de diminuir sua dignidade real, com suas mãos feitas para empunhar o cetro, cultivava um campo, conduzindo a charrua, semeava o trigo, fazia a colheita, depois moía os grãos, peneirava a farinha, preparava e cortava as hóstias e as apresentava como mais profundo respeito aos sacerdotes, para que as convertessem no Corpo do Salvador. Ó mãos dignas, de São Venceslau, de empunhar o cetro da Terra inteira! Qual foi, porém, a recompensa de tão terna piedade?

XXI

A bem-aventurada Ivete teve, certo dia, uma visão, que devia inspirar a essas pessoas o temor respeitoso devida à Santa Missa. Ao assistir à Santa Missa viu essa nobre flamenga um espetáculo terrível. Perto dela estava uma dama distinta, cujo olhar se fixava aparentemente no altar; mas não era para seguir o Santo Sacrifício, nem para adorar o Santíssimo Sacramento que ia receber, e sim, para satisfazer uma paixão impura. Em volta dela estavam um grande número de demônios que dançavam e se expandiam em demonstrações de regozijo. Quando ela se levantou para se dirigir à mesa sagrada, uns lhe seguraram a cauda do vestido, outro lhe ofereceu o braço enquanto outros lhe
faziam cortejo e serviam-lhe como a sua senhora. No momento em que o sacerdote descia do altar com a Santa Hóstia na mão a fim de dar a comunhão àquela infeliz, pareceu a Ivete que o Salvador abandonava as santas espécies e volvia ao Céu, repugnando-Lhe entrar num coração assim rodeado de espíritos das trevas.
Aterrorizada por semelhante cena, a bem-aventurada Ivete dirigia humildes preces a Nosso Senhor. E Ele revelou-lhe a causa, fazendo-lhe ver que aquela mulher alimentava uma paixão desordenada por uma pessoa que se achava próxima do altar, e que durante toda a Santa Missa, ao invés de se ocupar dos Santos Mistérios, contemplava-a com olhares impuros, desejando antes lhe agradar que agradar a DEUS. Por isso rodeavam-na os demônios e faziam-lhe o cortejo.
Dir-me-eis que não sois do número dessas infelizes criaturas, e eu creio de boa vontade. Se, entretanto, ides à Igreja com certos trajes escandalosos, mereceis todas as censuras.
Transformeis o templo sagrado em covil de ladrões, pois roubais a DEUS a honra, pelas distrações que provocais aos sacerdotes, aos ministros, a todo o povo.

XXII

Que sucederia, no entanto, se fôsseis à Santa Missa para vos entregardes à tagarelice, à curiosidade, às distrações voluntárias, e voltásseis com as mãos vazias? Foi o que sucedeu a uma camponesa, que morava em uma aldeia m pouco afastada da Igreja. Querendo alcançar uma graça importante, ela prometeu assistir à Santa Missa durante um ano. Com esta intenção, todas as vezes que ouvia repicar o sino anunciando a Santa Missa, em alguma Igreja dos arredores, largava imediatamente seu trabalho e punha-se a caminho sem atender sequer às inclemências do tempo. De volta a casa, para não perder a conta das Santas Missas assistidas, que tencionava completar exatamente conforme se impusera, depositava cada vez uma fava em uma caixa cuidadosamente guardada. Passou-se o ano, e ela, certa de ter cumprido a promessa e alcançado muitos méritos, foi abrir a caixa. Ora, de tantas favas que ajuntara, só encontrou uma. Surpreendida e consternada, invadiu-a um grande pesar, e dirigiu-se a DEUS, dizendo-lhe lacrimosa: Ó SENHOR, como é possível que, de tantas Santas Missas
que participei, só uma se encontre de sobra? Nunca faltei, a despeito do esforço a fazer, do mau tempo, da chuva, do frio e do caminho ruim!
DEUS então lhe inspirou a idéia de contar sua infelicidade a um piedoso sacerdote muito prudente.
Este lhe perguntou de que modo ia ela à igreja, e com que devoção assistia ao santo Sacrifício. Então ela disse-lhe que, no caminho só falava de negócios ou de diversões e passava o tempo dos divinos mistérios a tagarelar com um e outro, tendo o espírito ocupado exclusivamente com sua casa e seus campos. “Aí está, lhe disse o padre, o motivo de nada restar dessas Missas. A tagarelice, a curiosidade, as distrações voluntárias vos roubaram todo o mérito. Satanás vo-lo roubou. Por isso vosso Anjo fez desaparecer as favas, para vos mostrar que as obras mal feitas, ficam perdidas. Dai graças a DEUS porque, pelo menos, uma das Santas Missas, foi bem assistida e vos trouxe frutos.”

XXIII

Conta-se que certa mulher, tendo caído em grande miséria, estava em extremo desespero, num lugar solitário. Apareceu-lhe satanás e disse-lhe que se ela quisesse distrair as pessoas na igreja, por meio de conversinhas e falatório inútil e inconveniente, ele a tornaria rica como nunca. A miserável mulher aceitou a proposta e pôs-se a executar o diabólico ofício, alcançando plenos resultados: agia e falava de tal maneira que ninguém perto dela podia assistir atentamente à Santa Missa, nem a outras cerimônias.
Não durou muito, porém, que não pesasse sobre ela a mão de DEUS.

XXIV

É o que prova a história dos três negociantes de Gúbio. Dirigiram-se a uma feira que se realizava num burgo chamado Cisterno. Depois de vender suas mercadorias, dois deles começaram a pensar na volta e resolveram partir no dia seguinte de madrugada, a fim de estarem em casa ao cair da tarde. O terceiro discordou desta resolução e declarou que, sendo o dia seguinte um domingo, não se punha a caminho se antes ter assistido à Santa Missa. E exortou os outros, se queriam voltar como tinham vindo,
teriam primeiro que assistir à Santa Missa; em seguida fariam uma refeição e partiriam abençoados.
Além disso, se não pudessem chegar naquela mesma noite a Gúbio, não faltariam albergues confortáveis no caminho.
Os companheiros não se renderam aos conselhos salutares e sensatos; mas, decididos a chegar naquela mesma noite a seus lares, responderam que DEUS havia de perdoar-lhes se pro aquela vez faltassem à Santa Missa.
Assim, no domingo, antes da aurora, sem entrar sequer na igreja, montaram a cavalo e tomaram a estrada para sua terra.
Em breve chegaram à torrente de Corfuone, que a chuva torrencial da noite anterior engrossara a ponto de fazer transbordar. A água, em corrente impetuosa, sacudira e deslocara bastante a ponte de madeira.
Os dois negociantes meteram-se por ela com suas alimárias, mas, bem não tinham chegado ao meio, rompeu-se o madeirame à pressão da água e os dois cavaleiros precipitaram-se no rio onde se afogaram, perdendo assim dinheiro, mercadorias e a vida.
Ao fragor desta catástrofe, acorreram os camponeses, e por meio de ganchos e varapaus conseguiram retirar os cadáveres que deixaram estendidos na margem, para que fossem identificados e se lhes pudesse dar sepultura.
O terceiro, entretanto, que se deixara ficar para cumprir o preceito de assistir à Santa Missa, pôs-se a caminho alegre e animado. Ao chegar à mesma torrente, viu na margem os dois mortos, e por curiosidade se deteve para olhá-los.
Reconheceu imediatamente seus dois amigos e ouviu emocionado a descrição da tragédia.

XXV

Aprendei-o daqueles dois artesãos que Surius menciona. Exerciam ambos a mesma profissão; um tinha encargo de família, mulher, filhos e sobrinhos; o outro vivia só com sua mulher. O primeiro mantinha a casa decentemente e os negócios andavam às maravilhas.
Não lhe faltavam nem fregueses em sua loja, nem encomendas de trabalhos; e todos os anos ainda punha de lado boas economias para o casamento das filhas. O segundo nunca tinha trabalho, passava fome, e caminhava para a ruína.
Um dia disse confessadamente ao vizinho: mas o que é que fazes! As bênçãos de DEUS chovem sobre a tua família, enquanto eu, infeliz de mim, vivo embaraçado nos negócios e todas as desgraças caem sobre a minha casa. O amigo replicou, vou ensinar-te. Amanhã de manhã estarei em tua casa, e te mostrarei onde encontro tantos bens.
Na manhã seguinte levou o amigo á Igreja para assistir à Santa Missa, e reconduziu-o, após, à oficina. Fez a mesma coisa duas ou três vezes. Disse então o outro: Não precisas mais dar-te o trabalho de levar-me à Santa Missa: já sei o caminho, se está nela o teu segredo. Concordo respondeu o amigo. Vá todos os dias assistir à Santa Missa, e verás que tua sorte há de mudar.
Aconteceu, com efeito, que, desde que ele começou a assistir diariamente à Santa Missa, começou a aparecer-lhe trabalho, e em pouco tempo pagou suas dívidas e repôs sua casa em excelente estado.
Credes no Evangelho? Ora, se credes, como podeis por em dúvida esta verdade que ele claramente:
Buscai, em primeiro lugar, o reino de DEUS e sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Querite primum regnum DEI, et haec omnia adjicientur vobis” (Mt 6,33)
Se duvidais ainda, fazei a experiência: assisti, com devoção e ativamente, à Santa Missa, durante um ano, e se vossos interesses temporais não tomarem melhor andamento, aceitarei todas as censuras. Não será, porém assim. Pelo contrário tereis amplos motivos para agradecer-me.

XXVI

Era este o piedoso costume de São Elzéar, conde de Arian. Entre as boas regras que deu á sua casa, a primeira era que cada manhã todos assistissem à Santa Missa: servos, servas, lacaios, todos, queria ele ver na Igreja à hora da Santa Missa.
É costume santo, que muitos fidalgos praticam em Roma, cardeais e prelados que diariamente assistem à Santa Missa e fazem questão de ver ao seu redor todos os componentes de sua casa.
E não creiais que o tempo assim empregado pelos servidores seja perdido para vós. DEUS vos há de computa-lo.

XXVII

Santo Isidoro não passava de um pobre lavrador, mas tomava cuidado, de nunca faltar à Santa Missa pela manhã. DEUS então, para demonstrar-lhe quanto prezava esta devoção, mandava aos Anjos lavrar o campo de Isidoro enquanto ele estava na Igreja. Não é de esperar que DEUS faça para vós milagres tão sensíveis, mas de muitas maneiras irá Ele recompensar-vos por vossa piedade!


XXVIII

Era um vinhateiro que mantinha sua família com o suor de seu rosto, e que tinha o hábito de assistir, cada dia à Santa Missa, antes de ir para o trabalho. Dirigindo-se uma manhã bem cedo ao local onde se tratava trabalho, esperava que algum patrão viesse contratá-lo para aquele dia. Ouviu, porém o repicar do sino, e, conforme o costume, foi à igreja fazer suas orações.
Terminada aquela Santa Missa, foi celebrada outra, e ele, levado por sua devoção, deteve-se para assisti-la. De volta, enfim, ao lugar costumado, encontrou-o deserto, pois todos os trabalhadores tinham sido já contratados e haviam partido para o trabalho nos campos. O pobre homem encaminhava-se muito triste para a casa, quando encontrou um cidadão muito rico, o qual, notando-lhe o ar preocupado, perguntou-lhe o motivo daquele pesar.
- Que se há de fazer? Hoje de manhã, para não perder a Santa Missa, perdi minha diária, respondeu.
Não se aflija, replicou o rico, vá a igreja, assista à outra Missa, em minha intenção, e logo a tarde pagar-lhe-ei sua diária. O operário obedeceu e assistiu a todas as Santas Missas celebradas naquele dia. A tarde, foi receber sue salário, idêntico ao que se costuma pagar na região. Voltava ele muito satisfeito, quando lhe veio ao encontro um desconhecido (era o próprio JESUS), que lhe perguntou qual o salário recebido por um dia tão bem empregado”.
E ao ficar informado da quantia, exclamou: “Tão pouco, por trabalho de tão grande mérito?! Volta a esse rico e dize-lhe que se não aumentar tua recompensa, seus negócios irão muito mal.” O homem com toda simplicidade deu o recado ao rico, e este lhe deu mais cinco moedas, despedindo-o em paz. O vinhateiro deu-se pro muito satisfeito com o aumento, mas JESUS não se contentou. Ao saber que o aumento fora somente de cinco moedinhas, disse: “Não basta, volta a esse ricaço e adverte-o que se não der melhor retribuição, pode esperar terrível desgraça.” Foi-se novamente o trabalhador, e um tanto embaraçado fez sua comunicação em meias palavras. O rico ouvi-o, e, tocado interiormente por DEUS, deu-lhe uma boa quantia para comprar uma roupa nova.
Admirais, sem dúvida, a atenção da Divina Providência socorrendo esse pobre vinhateiro, em retribuição à sua terna piedade de assistir diariamente à Santa Missa, e tender razão. Mais admirável ainda foi, porém, a graça que a soberana Misericórdia concedeu ao rico. Com efeito, na noite seguinte JESUS apareceu-lhe em sonho, e lhe revelou que, em consideração ás Santas Missas assistidas por aquele pobre trabalhador, poupava-o de uma morte súbita que naquela mesma noite devia precipitá-lo no Inferno.
A esta revelação espantosa, o rico despertou, arrependeu-se de sua vida pecaminosa, e tornou-se devotíssimo da Santa Missa que, daí em diante, passou a assistir ao Santo Sacrifício, todas as manhãs. Mais ainda, começou a encomendar diariamente muitas Santas Missas em diversas igrejas, e, enfim, depois de uma vida virtuosa, findou seu dia em feliz morte. Por aí vedes como é liberal a bondade de DEUS para aqueles que se mostram devotos da Santa Missa.

XXIX

Enéias Silvio Piccolomini, mais tarde Pio II, refere que em certa região da Alemanha havia um fidalgo de grande linhagem que, tendo caído na pobreza, vivia retirado em uma de suas terras. Aí acabrunhado pela melancolia, estava prestes deixar-se dominar pelo desespero, e satanás o impelia, cada dia, a pôr uma corda ao pescoço a fim de dar cabo da vida. Nesse combate contra a tristeza e a tentação, recorreu a um santo confessor, que lhe deu o excelente conselho de não passar, nem um dia, sem assistir à Santa Missa.
O fidalgo aceitou o conselho e logo o colocou em prática; e fez mais, para ficar seguro de nunca faltar à Santa Missa, tomou um capelão que devia estar pronto a oferecer, cada manhã, o Santo Sacrifício, a que ele assistia com grande fervor e devoção. Um dia, porém, o capelão dirigiu-se bem cedo a uma aldeia pouco afastada para assistir um padre recém-ordenado, que lá celebrava sua primeira Missa. O
fidalgo, receoso de ficar privado da Santa Missa naquele dia, dirigiu-se apressadamente para a tal aldeia. No caminho, porém, encontrou um camponês e este lhe disse que podia voltar dali, pois a Santa Missa do novo sacerdote já havia terminado, e que na aldeia não se celebraria outra. A esta notícia, o fidalgo perturbou-se e exclamou entre lágrimas: “Que vai ser de mim hoje?” O camponês, que nada podia entender de tão pungente aflição, replicou num tom de gracejo e ímpio ao mesmo tempo: “Não choreis, senhor, eu vos venderei a Missa que acabo de assistir. Dai-me o manto que trazeis e eu vo-la cedo.”
O gentil-homem aceitou a estranha proposta do camponês, e, entregando-lhe o manto, encaminhando-se para a Igreja. Fez uma curta oração no lugar santo, e voltou em seguida para casa. Mas, ao chegar ao sítio em que se detivera pouco antes, qual não foi seu espanto ao ver enforcado num carvalho, morto como Judas, o desgraçado camponês que lhe vendera sua Missa.
A tentação de suicídio passara do fidalgo ao camponês, que, privado do socorra que a Santa Missa lhe alcançara, não soubera resistir ao diabo. O fato acabou de convencer o bom fidalgo de quão eficaz era o remédio sugerido pelo confessor, e mais se firmou em sua resolução de assistir, todos os dias, à Santa Missa.
Duas coisas de grande importância eu quisera que notásseis neste terrível caso. Primeiro a grosseira ignorância de grande número de cristãos que, não sabendo apreciar as riquezas imensas na Santa Missa, vão a ponto de taxá-la por um preço material.

XXX

Por isso, nas antigas comunidades cristãs os fiéis, para a celebração da Santa Missa, tendo à frente o Papa, iam em procissão até o altar, vestidos com vestes de penitência e cantando a Ladainha dos Santos.
Na verdade, quando vamos à Santa Missa, devemos ir, repetindo com São Tomé: “Vamos, nós também, para morrermos com Ele!” (Jô 11, 16)
Quando Santa Margarida Maria Alacoque assistia à Santa Missa, e ficava olhando o altar, não deixava nunca de lançar um olhar para o crucifixo e para as velas acessas.
Para que?
Para que se imprimissem bem duas coisas na mente e no coração: o crucifixo fazia-lhe lembrar o que JESUS tinha feito por ela; e as velas acesas lhe recordavam o que ela devia fazer por JESUS, isto é, sacrificar-se e imolar-se por Ele e pelas almas.

XXXI

Nosso Senhor JESUS disse a Santa Matilde: “Pelo meu Sangue, venço a cólera de meu PAI e reconcilio o homem com o seu DEUS.” Isso se realiza principal e especialmente no Sacrifício da Santa Missa. O Seu Sacrifício na Cruz torna-se presente pela Santa Missa. Por isso, o preciosíssimo Sangue de CRISTO corre na Santa Missa como se saísse das Chagas de JESUS na Cruz.

XXXII

São as seguintes as palavras de JESUS a Maria Graf-Sutter: “Aqueles que se unem, sem cessar, ao meu Sacrifício na Cruz e oferecem a DEUS PAI, o meu Preciosíssimo Sangue pela salvação das almas, podem, de certo modo, explorar o meu Coração, porque têm poder sobre Ele. Eu purificarei as suas almas, lavando-as no meu Sangue.”
Se uma alma oferece ao meu PAI Celeste o Santo Sacrifício, com o sacerdote e através dele, com verdadeiro espírito de imolação, ela participa de todas as graças deste Sacrifício.”
Se assiste a uma Santa Missa, mas tendo no seu coração o desejo de oferecer muitas vezes a DEUS o Santo Sacrifício e, com esta pura intenção, se une a todos os sacerdotes da Santa Igreja, para oferecer com eles os meus sofrimentos, e a minha Morte, com esta perpétua oferta ela obterá perpetuamente graças. Com a minha Graça, esta alma unir-se-á a todas as Santas Missas celebradas no Mundo inteiro, e a sua vida tornar-se-á uma perpétua união de sacrifício coMigo e em Mim.”

XXXIII

Segundo São Lourenço Justiniano, “Nenhuma língua humana, pode contar os favores, que nascem, como de uma fonte, do Sacrifício da Santa Missa: o pecador que se reconcilia com DEUS, o justo que se torna mais justo, as culpas que são canceladas, os vícios que são erradicados, as virtudes e os méritos que crescem, as insídias de satanás que são confundidas.”
Os efeitos salutares, pois que cada Santa Missa produz na alma de quem dela participa, são admiráveis: obtém o arrependimento e o perdão das culpas, diminui a pena temporal devida por causa dos pecados, desarma o império de satanás e abranda os furores da concupiscência.
A Santa Missa também reforma os vínculos de nossa incorporação com JESUS CRISTO, preserva de perigos e desgraças, abrevia a duração do Purgatório e aumente o grau de glória no Céu.

XXXIV

Santa Teresa de Jesus dizia às suas filhas: “Sem a Santa Missa, que seria de nós? Tudo pereceria neste Mundo, pois somente ela pode deter o braço de DEUS.” Sem a Santa Missa, certamente a Igreja não teria durado até agora, e o Mundo já se teria perdido sem remédio. “Sem a Santa Missa, a Terra já teria sido aniquilada, há muito tempo, por causa dos pecados dos homens.”, ensinava Santo Afonso de Ligório. Segundo São Boaventura, “A Santa Missa, é a obra na qual DEUS coloca sob nossos olhos todo o amor que Ele nos tem; é, de certo modo, a síntese de todos os benefícios que Ele nos faz.”