Autoria de: Larissa Moreira Tavares – 3º Alfa – turma de
2019
Em homenagem: a todas as equipes que compuseram o processo
letivo do Colégio Antares
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Sendo eu muito pretensiosa ao querer proferir um discurso em
situação ímpar da vida dos aqui presentes, sentindo minhas palavras serem
pesadas e medidas por tão diferentes interesses, é uma antítese que eu tenha de
recorrer aos excetos de outras pessoas – muito mais dignas do que eu – para
marcar esse monólogo como singular. Como, então, perguntar-me-ão, possui você
arrogância para nos chamar a atenção ao que nos fala, quando não se acha
competente à responsabilidade? Bem, essa minha petulância em falar mesmo que
não me caiba à fala foi o que me levou aos lugares mais inusitados, como esse,
e acredito ser aquilo que me levará a viver uma vida diferente de qualquer
outra coisa.
Começando pelo ilustre Raul Pompeia; “O Ateneu”, além de uma
lição de moral em forma de uma tapa no meio dos olhos – passei a admirar com
mais veemência o fato de estudar nas escolas do século XXI – trouxe-me a lógica
de pensamento mais elucubrativa sobre minhas dores de cabeça acadêmicas.
Diz-se, em paráfrase, que a sala de aula deve representar o microcosmos da
sociedade. Ora! Sendo, portanto, a sociedade um caos, o que esperar de diferente
das salas de aula? Quando se juntam cerca de vinte jovens, indecisos ou
decididos demais ao mesmo tempo, que passam pelo processo de vomitar o âmago de
seus sentimentos na forma de drama ou de sarcasmo, jorrando essa vomição em um
liquidificador, misturando e triturando, despejando o preparado no copo sem
fundo da expectativa e engolindo tudo ao ponto de amor e ódio se confundirem no
estômago; fica claro e compreensível precisarmos de, ao menos, Harrison Fordes
à educação.
O engraçado é que, algumas sorteadas vezes, conseguimos
pessoas tão boas quanto.
Continuando com Goethe, relevando a inconsequência de “Os
Sofrimentos do Jovem Wether” não ser uma obra psicologicamente apropriada para
alguém cujos nervos então prestes a sofrer o vestibular, ousam ovacionar nossos
educadores com o trecho “Ah, o que eu sei qualquer um pode saber; mas o meu
coração só eu possuo!”. Aquilo que o trágico Wether tentava transmitir ao
Príncipe Imbecil é: num livro qualquer um pega, mas é íntima a sensibilidade de
entendimento e a incorporação, o
comer-mastigar-engolir-regurgitar-deglutir-digerir a informação, ruminar o
conhecimento e dele criar a fonte de tantas outras observações filosóficas. O
caráter da alma, a sabedoria sentimental – diria Jane Austen - a respeito de
algo é o que determina alguém poder ser classificado como “proficiente” em
qualquer matéria. Sou grata ao afirmar que encontrei, ao longo dos três últimos
anos e em seus antecessores, alguns dos mais apaixonados olhares sobre suas
respectivas incumbências de ensino despojadas no quadro branco. Viver o que
você ensina é ensinar como quem vive: a coisa mais natural do mundo. Não serei
tão hipócrita a ponto de dizer que basta vontade para aprender – qual foi minha
vontade em Física e Matemática, que eu trato com letras maiúsculas – mas saber
que alguém queria de seu todo me ensinar fala sobre como eu valorizo antes ter
tentado aprender do que ter entendido de verdade.
Puxando o gancho para o sapientíssimo Mário Quintana, irei
me atrever a provocar uma onda de revolta dos docentes e discentes ao declamar
sua definição. “Autodidata: ignorante por conta própria.” Antes de ter de me
utilizar do famigerado escudo do Capitão América – o que todos saberiam ser
mentira, pois é de conhecimento público minha predileção pelo Homem de Ferro –
para me defender de paus e pedras verbais, pensem: tudo aquilo que você
aprendeu alguém ensinou. Quem te escreveu os livros, quem te ensinou a ler e a
contar, quem te indicou frases genéricas de autores para comer linhas da
redação. Mesmo a descoberta de um novo horizonte demanda subir uma escada
talhada de madeira antiga. Por isso, não somente congratulo os professores, mas
também os coordenadores e seus auxiliares – mesmo que, infelizmente, eu não
tenha aprendido a coordenar minha vida tão diligentemente quanto eu deveria.
Bem se sabe que a culpa é minha, a Babilônia, Deus me perdoe, foi apenas o
prelúdio do que viria a ser meu caderno escolar. Quando eu ainda encontrava em
mim vontade para anotar. Não esquecendo, além disso, de quem gerencia a comida,
a limpeza e a recepção dessa instituição: os encargos mais fundamentais e
merecedores do mais sincero prestígio. Mostraram-me eles que há pessoas que
deixam de lado uma vassoura para te desejar um bom dia, que conversam de bom
grado com você enquanto se espera a chegada de um pai à recepção, que lidam com
uma dezena de adolescentes esfomeados e impacientes – para não dizer grosseiros
e generalizar - e ainda sorrir quando te cumprimentam. Lembrem-se: não é o
corpo vistoso do edifício que o sustenta, mas os alicerces que não enxergamos
no subsolo.
E, tendo citado adolescentes impacientes, os quais só devem
estar mais ansiosos para que eu termine de ser piegas, olhem vocês em volta e
me digam, há algo mais heterogêneo do que nós em toda a grandeza de manada que
consiga se unir tão bem para reclamar de qualquer coisa? Acho certo que em
algum momento todos nós nos voltemos para aqueles com quem nunca falamos – a
não ser mal, pelas costas – e digamos “Parabéns por me aguentar, eu mesmo não
consigo fazer isso tão bem às vezes.”.
Para continuar nossas vidas com poesia, encerro, à guisa de
Raimundo Correia:
As pombas estão finalmente
voando dos pombais.
Mas, ao contrário da juventude,
que não voltará jamais.
As memórias perpetrarão
pela vida, e se houver mais.
Pois a alma não engaiola.
Mas na vida ela solta
aquilo que nos fez “capaz”.
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