Era noite alta, José e Maria não encontraram abrigo nas
casas de Belém. Pobres e desprezados, foram abrigar-se em uma gruta onde os
pastores protegiam-se nas noites frias de inverno. A gruta está deserta, José
amarrou seu jumentinho, e foi explorar o interior da gruta. Paredes nuas,
rochosas, frias. No chão palha limpa, feno, e uma manjedoura.
É a mobília do palácio do Rei dos Reis, para quem o luxo
dourado não passa de farrapos. José ficou pensativo, inquieto e, escondido de
sua esposa MARIA chorou. Se fosse um abrigo para ele, o humilde José aquela
gruta pareceria um palácio, todavia, tratava-se da sua doce esposa, a SS. Virgem,
que lhe foi confiada pelo próprio Deus.
Então, José entregou tudo nas mãos de Deus, começou a
limpeza do ambiente, enquanto Maria sentou-se do lado de fora para comer alguma
coisa, pois já era muito tarde. Quando tudo estava pronto, Nossa Senhora sentiu
que a hora do nascimento de JESUS CRISTO estava chegando. Alguns santos afirmam
que São José, sabendo que aquele mistério era grande demais para seus olhos,
saiu da gruta e ficou aguardando. E o milagre se deu!
Era meia noite! Nossa Senhora inclina a cabeça sobre a manjedoura,
onde chorava uma criancinha. Com efeito, quem a visse, ativa e preocupada, não
teria ideia de ser ela mesma a mãe da criança. Mas, bastaria ver os cuidados e
carinhos com os quais cercava o menino, que logo compreenderia, era Sua Mãe!
Ela o tomou nos braços, envolveu em paninhos quentes, beijou
e abraçou o fruto bendito de suas entranhas e o depositou nas palhas ásperas do
presépio. A criança então adormeceu, embalada pelo amor da adoração de sua mãe.
E São José?
José, prostrado pela fadiga, adormeceu à entrada da gruta.
Pé ante pé, e sem palavras, a Virgem Santa acordou o esposo e o levou até à
manjedoura.
Pode-se então imaginar o que se passou com São José naquela
hora?
Ele viu o menino adormecido e sua mãe Maria, cujo rosto
parecia transfigurado e radiante em meio às trevas daquela noite. José ficou
sem palavras, Maria não apresentava nem fadiga, nem dor. Grossas lágrimas
desceram pela face, José caiu de joelhos, a fronte no pó da terra, ele queria
chorar, soluçar, rir. Ele então adorou, aniquilado pelo sentimento de sua
indignidade, o Menino Deus que o havia escolhido como pai adotivo e guardião.
É provável que São José recordou-se as palavras que o Anjo
lhe tinha dito: “O que dela nascer é obra do Espírito Santo; ela dará à luz um
filho e o chamarás Jesus, porque Ele há de salvar seu povo dos seus pecados.”
(Mt, 1, 20-21). Ele então compreendeu que Maria, sua esposa é quem acabava de
dá-lo à luz, exclamou: “Meu Deus, meu Deus!” E viu que ele mesmo, pobre
carpinteiro, de mãos calejadas e de rosto queimado, participava deste sublime
mistério! “oh! Deus, será possível?”
E José chorou, soluçou, queria fugir mas, não; humilha-se e
adora.
Ele não se parece conosco as vezes? Naqueles momentos que
nos sentimos indignos, pobres e pecadores, e Nossa Senhora nos chama para perto
do Filho dela, e nós choramos, nos aproximamos do confessionário e de joelhos
pedimos perdão.
Este cenário nos convida a ficarmos mais próximo do
presépio. Ver que a criança divina dormindo. O choro, as palpitações de seu
coraçãozinho, irradiam-se para Maria e José, inclinados sobre a manjedoura. A
Virgem Santa, sorrindo toma nos braços o Menino e o deposita nos braços de José,
que quase desmaia de emoção e amor. Num beijo prolongado, com o rosto banhado
de lágrimas José exprime assim sua gratidão e seu amor.
Eis a cena de Belém, o Natal de Belém! Esta meditação nos leva
para mais perto de Deus. Como José, vamos ao presépio adorar nosso Redentor.
Adoremos o Menino nos braços de sua Mãe e dela o recebamos para cobri-lo com os
beijos de nossa adoração, de nosso amor, e de nossa eterna gratidão.
Na manjedoura se encontra JESUS nos braços de sua Mãe e é ela
quem O apresenta à nossa adoração, como o apresentou a São José, aos pastores e
aos reis magos. Que neste Natal, estejamos dentro da gruta de Belém, amando a
Deus e sentindo-nos amados por Ele, sua mãe e São José.
Um Santo Natal.
Fonte: MARIA, Pe. Júlio, O Evangelho das Festas Litúrgicas e
dos Santos mais Populares, Ed. O Lutador, Munhamirim – MG, 1952.