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sábado, 26 de novembro de 2011

Os ossos de São Pedro e o Vaticano !!!

A grandeza e o esplendor do conjunto arquitetônico da Basílica de São Pedro estão intrinsecamente unidos à glorificação de São Pedro, Príncipe dos Apóstolos. Ele foi o primeiro da longa série de Papas que, como Vigários de Nosso Senhor Jesus Cristo, têm conduzido e conduzirão a Igreja até o fim dos tempos. A Basílica foi construída em função do túmulo de São Pedro. Representação material consoladora da promessa de Nosso Senhor: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja” (Mt 16,18).
Porém, quando São Pedro radicou o seu trono em Roma, no ano 42, as aparências eram outras. No século I, funcionava no local o circo de Calígula, um dos mais depravados Césares pagãos. Esse circo servia para corridas de quadrigas e os mais torpes espetáculos. São Pedro viu aquele circo ser restaurado, engrandecido e enriquecido pelo imperador Nero, que iniciou as perseguições aos cristãos. O próprio São Pedro foi ali crucificado no ano 67. O corpo do Apóstolo foi depositado num esquálido túmulo ao lado do circo; e os fiéis, nos interstícios das perseguições, o iam venerar. Podemos imaginá-los cheios de fé, iludindo a vigilância da soldadesca e talvez ouvindo os bramidos das multidões no circo, aproximando-se cautelosamente para elevar uma prece naquele túmulo sagrado e revigorar sua certeza no triunfo da Igreja.

(Planta de São Pedro. Azul: atual; marrom: constantiana-medieval; verde: Circo Romano)
Tem-se notícia de um singelo templo erguido sobre o túmulo de São Pedro pelos primeiros cristãos. Nada dele restou, pois em seu lugar, no ano 325, Constantino, à testa de um Império cristianizado, mandou construir uma magnífica basílica em estilo romano, em honra do Príncipe dos Apóstolos. Esta basílica constantiniana sofreu sucessivas reformas e acréscimos, e também toda espécie de calamidades.  Em 847, os sarracenos a pilharam. Para protegê-la dos maometanos, o Papa Leão IV a rodeou com um muro e torres fortificadas. A área assim protegida foi chamada de Cidade Leonina, que foi o embrião da hodierna Cidade do Vaticano. Em volta da basílica surgiram igrejas e mosteiros. Os Papas construíram um dos seus melhores palácios. No interior, o venerando templo albergava quanto havia de mais precioso ofertado por gerações de peregrinos.

 Construção da atual Basílica
O Papa Júlio II confiou o plano da Basílica e a sua execução ao famoso arquiteto Bramante. Júlio II em pessoa, na presença de 35 cardeais, colocou a pedra fundamental há 500 anos, em 18 de abril de 1506. A construção da Basílica durou mais de um século, tendo sido consagrada em 18 de novembro de 1626 por Urbano VIII. Bramante fora sucedido por artistas como Rafael e Michelangelo. O Papa Paulo V dispôs que a Basílica tivesse forma de cruz latina, para melhor se adequar ao espírito da Contra-Reforma. Porém, após tantos séculos e reformas começou um zum-zum que insinuava que as relíquia de São Pedro não estariam ali. Em 1953 foi achado um antigo túmulo hebraico com a inscrição “Simão filho de Jonas”. O achado arqueológico foi objeto de um livro “Gli Scavi del Dominus Flevit”, redigido por dois sacerdotes, os Pe. Bellarmino Bagatti OFM (1905-1990) e Józef Tadeusz Milik (1922-2006).  O livro foi alimentou a suspeita de que os ossos de São Pedro não se encontravam em Roma. O historiador Schaff até avançou a idéia de que São Pedro nunca esteve em Roma. Para isso manipulou a Epístola de São Paulo aos Romanos, que remonta ao ano 58. Nela São Paulo não menciona São Pedro, embora cita os nomes de 28 líderes da igreja em Roma (Rom. 16:7). São Paulo que esteve também em Roma, onde foi martirizado, escreveu que “só Lucas está comigo”. [1 Tim. 4:11]. A instrumentalização das citações era de molde a semear a dúvida. Se em São Pedro de Roma não estão as relíquias de São Pedro como a Igreja sempre disse, Ela seria pega numa fraude visível.

Testemunho da Tradição sobre os ossos de São Pedro no Vaticano
 
Urna com as relíquias de São Pedro como pode ser vista hoje

Do ponto de vista histórico, tal vez nenhum túmulo do mundo esteja tão apoiado em documentos de época, quanto o de São Pedro na Basílica Vaticana. O lugar da sepultura havia sido mencionado pela primeira pelo presbítero Gaio, nos tempos do papa Zeferino (entre 198 e 217): “Posso mostrar-te os troféus dos apóstolos [Pedro e Paulo]. Se quiseres dirigir-te ao Vaticano ou à Via de Óstia, encontrarás os troféus daqueles que fundaram esta Igreja [de Roma]” (in: Eusébio de Cesaréia, História eclesiástica, II, 25, 7). Gaio entendia por “troféu” o corpo do mártir.

O martírio de Pedro é confirmado por Tertuliano, que, por volta do ano 200, escreve que a preeminência de Roma está ligada ao fato de que três apóstolos, Pedro, Paulo e João, nessa cidade ensinaram, tendo sido os dois primeiros, mártires nela (cf. A prescrição contra os hereges, 36).  Clemente Romano, no ano 96, escreveu: “Levemos em consideração os bons apóstolos: Pedro, que por inveja injusta suportou não um, nem dois, mas muitos sofrimentos, e assim, depois de ter dado testemunho, encaminhou-se para o merecido lugar da glória. [...] Em torno desses homens [Pedro e Paulo], que se comportaram piamente, reuniu-se uma grande multidão de eleitos, os quais, depois de terem sofrido por inveja muitos ultrajes e tormentos, tornaram-se entre nós belíssimo exemplo”. Entre muitos outros testemunhos históricos pode se citar os de: Orígenes (185 - 253) responsável pela Escola catequética em Alexandria afirmou: “Pedro, ao ser martirizado em Roma, pediu e obteve fosse crucificado de cabeça para baixo”.

Santos: Agostinho, Gregório, Ambrósio, Jerônimo
Santo Ireneu (130 - 202), bispo de Lião referiu: “Para a maior e mais antiga a mais famosa Igreja, fundada pelos dois mais gloriosos Apóstolos, Pedro e Paulo." e ainda "Os bem-aventurados Apóstolos portanto, fundando e instituindo a Igreja, entregaram a Lino o cargo de administrá-la como bispo; a este sucedeu Anacleto; depois dele, em terceiro lugar a partir dos Apóstolos, Clemente recebeu o episcopado.” E acrescentou: “Mateus, achando-se entre os hebreus, escreveu o Evangelho na língua deles, enquanto Pedro e Paulo evangelizavam em Roma e aí fundavam a Igreja.”

Tertuliano (155-222 d.C.): “A Igreja também dos romanos publica ‒ isto é, demonstra por instrumentos públicos e provas ‒ que Clemente foi ordenado por Pedro. Feliz Igreja, na qual os Apóstolos verteram seu sangue por sua doutrina integral!” ‒ e fala da Igreja Romana, “onde a paixão de Pedro se fez como a paixão do Senhor.”

São Eusébio (263-340 d.C.) bispo de Cesáreia, escreveu a “História Eclesiástica” onde narra a história da Igreja das origens até 303, e diz: “Pedro, de nacionalidade galiléia, o primeiro pontífice dos cristãos, tendo inicialmente fundado a Igreja de Antioquia, se dirige a Roma, onde, pregando o Evangelho, continua vinte e cinco anos Bispo da mesma cidade.”

Santo Ireneu
Santo Epifânio (315-403 d.C.), bispo de Constância falando da sucessão dos Bispos de Roma, registrou: “A sucessão de Bispos em Roma é nesta ordem: Pedro e Paulo, Lino, Cleto, Clemente etc..”
Doroteu: “Lino foi Bispo de Roma após o seu primeiro guia, Pedro.”
Optato de Milevo: “Você não pode negar que sabe que na cidade de Roma a cadeira episcopal foi primeiro investida por Pedro, na qual Pedro, cabeça dos Apóstolos, a ocupou.”
São Cipriano (martirizado em 258), bispo de Cartago (norte da África), no livro De Ecclesiae Unitate diz: “A cátedra de Roma é a cátedra de Pedro, a Igreja principal, de onde se origina a unidade sacerdotal."[28]
E o grande Santo Agostinho (354 - 430): “A Pedro sucedeu Lino.”
São Pedro morreu nos jardins de Nero, no Vaticano, ao lado de uma grande multidão de cristãos, na perseguição desencadeada por esse imperador. É ao ano de 64, ano do início das perseguições que deve remontar, a data do martírio do Príncipe dos Apóstolos.
São Jerônimo punha o martírio de São Pedro no ano de 67, juntamente com o martírio de São Paulo.
O historiador romano Tácito descreveu essa perseguição: “Portanto, em primeiro lugar foram presos aqueles que confessavam abertamente sua crença [na ressurreição de Cristo]; depois, por denúncia destes, foi presa uma grande multidão, não tanto sob a acusação de ter provocado o incêndio, mas, sim, pelo ódio que tinham à espécie humana. À morte de todos eles acrescentava-se o escárnio, pois que, revestidos de peles de animais, pereciam dilacerados pelos cães, ou eram pregados nas cruzes, ou queimados vivos, ao pôr-do-sol, como tochas para a noite. Nero cedeu seus jardins para esse espetáculo, e providenciou jogos circenses, participando deles misturado à multidão, em vestes de auriga, ou de pé sobre o carro. Por isso, embora fosse gente culpada e merecedora de tão originais tormentos, crescia um sentimento de piedade por eles, pois eram sacrificados não para o bem comum, mas em razão da crueldade de um só” (Anais, XV, 44, 4-5).

                   O Imperador Constantino fez construir a primeira basílica
O imperador Constantino fez do cristianismo a religião oficial do Império. Na secunda década do século IV, encerrou num monumento em alvenaria a sepultura de Pedro. Até então só havia um túmulo escavado diretamente na terra, perto do circo que marcava o limite setentrional dos jardins de Nero. Por volta de 320, o mesmo imperador edificou uma basílica em função da sepultura. Para isso foi necessário um grandioso trabalho de engenharia, que, de um lado, cortava os declives da colina Vaticana e, de outro, soterrava e utilizava como fundamentos as estruturas de uma necrópole dos séculos I e IV. Quis Constantino que a basílica fosse o monumento que encerrava a sepultura do apóstolo. Por esse motivo, o eixo do edifício de Constantino não levou em conta, como teria sido mais fácil, a necrópole e o circo. Assim, desde aquela época o sepulcro do apóstolo é o centro exato do transepto da Basílica. E, por sua vez, o ponto de referência de tudo o que foi construído ao seu redor ao longo dos séculos. 

 (Primeira basílica constantiniana com acréscimos medievais)

Desde as sepulturas dos primeiros fiéis cristãos até as instalações para os peregrinos no início da Idade Média, tudo foi feito em volta do eixo da Basílica, cujo centro era o túmulo do Príncipe dos Apóstolos. Acrescente-se ainda as estradas e os muros da civitas Leoniana edificados depois do saque dos sarracenos de 846 além do moderno bairro do Borgo. A construção da atual basílica, fundada pelo papa Júlio II em 18 de abril de 1506, embora tenha levado à demolição da basílica constantiniana e de seus acréscimos medievais, respeitou rigorosamente a centralidade do sepulcro de Pedro. O atual altar-mor, construído pelo papa Clemente VIII (1594), encontra-se exatamente acima do medieval, do papa Calixto II (1123), que, por sua vez, engloba o primeiro altar, do papa Gregório Magno (cerca de 590), construído sobre o monumento constantiniano que guarda o túmulo de Pedro. O ápice da cúpula de Michelangelo se encontra em posição exatamente perpendicular acima desse altar. 
A ciência confirma: os ossos de São Pedro estão no Vaticano

"Muro dos grafitti"

O papa Pio XII dispôs uma escavação arqueológica sob o altar-mor da Basílica Vaticana. Essa aconteceu entre 1939 e 1949 e foi levada a cabo por quatro estudiosos de arqueologia, arquitetura e história da arte. Tratou-se de Bruno Maria Apollonj-Ghetti; Pe Antonio Ferrua, S.J.; Enrico Josi e Pe. Engelbert Kirschbaum, S.J.; sob a direção de dom Ludwig Kaas, secretário da Insigne Fábrica de São Pedro. Eles encontraram o monumento de Constantino, um paralelepípedo com cerca de três metros de altura, revestido de mármore pavonáceo e pórfiro. Escavando ao longo dos lados do monumento constantiniano encontraram debaixo dele o túmulo de Pedro. As escavações revelaram uma pequena capela, formada por uma mesa sustentada por duas pequenas colunas de mármore e apoiada num muro rebocado e pintado de vermelho (o chamado “muro vermelho”) em posição correspondente à de um nicho; no chão, diante do nicho, sob uma pequena laje, um túmulo escavado diretamente na terra.
A pequena capela, que pode ser datada do século II, logo foi identificada como sendo o “troféu de Gaio”. Tratava-se do mais primitivo túmulo que guardou originalmente as relíquias. Mas o túmulo encontrado estava vazio, pois as relíquias foram transferidas posteriormente. O monumento constantiniano havia englobado também uma outra estrutura, ao lado da capela, um pequeno muro perpendicular ao “muro vermelho”. Esse pequeno muro foi denominado “muro dos grafitos”, pois, na face oposta à capela, continha um grande número de grafitos sobrepostos uns aos outros, anteriores ao próprio Constantino. No interior do pequeno muro, havia sido escavado em tempos antigos, seguramente depois da inserção dos grafitos e antes do arranjo definitivo do monumento constantiniano, um lóculo em forma de paralelepípedo revestido de mármore em toda a base e, até uma certa altura, nos quatro lados, um dos quais, o ocidental, terminava justamente no “muro vermelho”. Segundo a reconstrução elaborada mais tarde pela arqueóloga Margherita Guarducci, desse lóculo havia sido retirada grande parte do material que continha.

PEDRO está aqui !!!

Túmulo de São Pedro, visto desde a cripta

Dali provém um importantíssimo documento. Trata-se um fragmento extremamente pequeno (3,2 x 5,8 cm) de reboco vermelho, sobre o qual está grafitado, em grego, a expressão “PETR[Oc] ENI”, ou seja, “Pedro está aqui”. Os estudos de Guarducci entre 1952 e 1965, levaram à decifração dos grafitos mostrando que estes continham uma ampla série de invocações a Cristo, a Maria e a Pedro, sobrepostas e combinadas. Os mesmos estudos, compostos de pesquisas complexas e bem articuladas, realizadas com o máximo rigor científico, permitiram constatar que nesse lóculo tinham ficado as relíquias de Pedro depois de retiradas do túmulo escavado na terra.
AS RELÍQUIAS
Encontravam-se numa pequena caixa extraída daquele mesmo lóculo durante as escavações dos cientistas e guardada nas dependências das Grutas Vaticanas. Depois de analisados, os restos mortais revelaram-se pertencentes a um só homem, de compleição robusta, que morrera em idade avançada. Tinham incrustações de terra e mostravam terem sido envolvidas num pano de lã colorida de púrpura, com trama de ouro. As relíquias eram compostas de fragmentos de todos os ossos do corpo, exceto dos ossos dos pés, dos quais não havia o menor vestígio. Esse pormenor, realmente singular, não podia deixar de trazer à memória a circunstância da crucifixão inversa (de cabeça para baixo), atestada por antiga tradição como símbolo da humildade de Pedro. Os resultados desse tipo de crucifixão, ou seja, a separação dos pés, eram visíveis nos restos do corpo encontrado. 

 Crucifixão de São Pedro. Massaccio, Pisa
A mesma circunstância correspondia perfeitamente a um conhecimento bem sólido, do ponto de vista histórico: o do costume romano de tornar espetaculares as execuções dos condenados à morte. O cadáver dos executados, privado do direito de sepultura, era abandonado no lugar do suplício. Foi o que ocorreu a Pedro, levado à morte sem nenhuma distinção, entre muitos outros; só quando foi possível recuperar o corpo é que o apóstolo foi sepultado na terra, da maneira mais humilde – provavelmente às pressas, no lugar mais próximo à disposição. O arqueólogo António Ferrua descobriu ainda características das substâncias químicas contidas na ossada, pertencente a um homem que viveu a maior parte de sua vida próximo do Lago de Tiberíades, na Galiléia. Por fim, no encerramento do Jubileu de 1950, Pio XII deu o anúncio do reconhecimento da sepultura de Pedro, que uma tradição antiqüíssima e unânime também atestava, e a ciência arqueológica confirmava. “Nos subterrâneos da Basílica Vaticana estão os fundamentos da nossa fé. A conclusão final dos trabalhos e dos estudos responde um claríssimo ‘sim’: o túmulo do Príncipe dos Apóstolos foi encontrado”.

Porém, as investigações prosseguiram.


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