I. A língua latina convém ao culto católico porque é venerável, misteriosa e invariável.
A língua latina é venerável pela sua antiguidade: era a que empregavam os cristãos dos primeiros séculos para celebrar os louvores de Deus [1]. “Sente-se comoção e entusiasmo quando se ouve oferecer o Santo Sacrifício da mesma língua e com as mesmas palavras de que se serviram os primeiros cristãos nas profundidades sombrias das catacumbas” (Gir.). – A língua latina é uma língua misteriosa, porque, como língua morta, o povo não a compreende. Empregando-a, dá-se a entender que no altar se passa alguma coisa que se não pode compreender, alguma coisa misteriosa. Nos primeiros séculos do cristianismo, o altar estava encoberto por um véu desde o Sanctus até a Comunhão. Este uso desapareceu, mas existe sempre um véu diante do altar: é a língua latina que o povo não compreende e que nos torna os santos mistérios veneráveis. – Finalmente por ser língua morta é invariável e significa com isto a imutabilidade da doutrina católica, que não muda, como não mudam as formas desta língua [2]. – Além disso, convém notar que os Judeus e os Pagãos se serviam, no seu culto religioso, de uma língua que não era a língua vulgar. Entre os Judeus, por exemplo, empregava-se o antigo hebreu, que era a língua dos Patriarcas. Jesus Cristo e os Apóstolos assistiram ainda ao ofício divino que se celebrava nessa língua e a história não nos diz que Jesus Cristo e os Apóstolos hajam censurado esse costume. – Na Índia, o sânscrito é a língua sagrada, e difere dos dialetos que usa o povo. – Os Gregos, quer os não unidos quer os unidos, empregavam nas suas igrejas o grego antigo, e não o grego moderno ou vulgar. – Até na Igreja russa se servem do grego antigo, ao passo que o povo fala o eslavo. A igreja Anglicana emprega o inglês antigo. Só os Romenos unidos se servem, com aprovação de Roma, da sua língua materna (Isso até a trágica reforma litúrgica de Paulo VI. N. do blog).
2. A língua latina no serviço divino é muito útil à Igreja: contribui para manter a sua unidade e evita muitos inconvenientes.
A língua latina serve para manter a unidade na Igreja; liga entre si, e com a Igreja-Mãe de Roma, as Igrejas espalhadas pelo universo, e assim colmaem parte o abismo que separa os diferentes povos da terra. “A língua latina da Igreja faz de todos os povos e de todas as raças do mundo uma só família de Deus, o reino de Jesus Cristo. O altar é cópia da Jerusalém celeste, em que todos os anjos e os santos cantam com uma voz unânime os louvores de Deus” (Gir.). Se a língualatina não fosse a língua oficial da Igreja, seria impossível haver, nos concílios,uma discussão comum entre os bispos, uma troca recíproca dos pensamentos dos pareceres dos teólogos e doutores de tantos povos diversos. Que enorme prejuízo daí viria à Igreja! (Deh). A língua latina, que vem de Roma, recorda-nos também que pertencemos à Igreja romana e que foi de Roma, Igreja-Mãe, que os missionários foram enviados às nossas terras e espalhas nelas a fé católica; ela é, pois, uma exortação contínua à unidade. – A língua latina evita muitos inconvenientes; como língua morta, não varia; o sentido das palavras permanece o mesmo através dos séculos, o que não se dá com as línguas vivas, que mudam muitas vezes no decurso dos séculos. Se a língua litúrgica fosse uma língua viva, facilmente nela se introduziria heresias. Por outro lado o latim evita que homens grosseiros abusem, fora dos ofícios divinos, das palavras e orações sagradas para fazerem com elas audaciosos gracejos, ou que mofem das coisas santas. – A Igreja, todavia, não teve a mínima idéia de manter os fiéis na ignorância do significado das funções sagradas: pelo contrário, ela ordena seus sacerdotes que expliquem a missa e as suas cerimônias, tanto na escola às crianças como no púlpito aos adultos (Conc. Trid. XXII, 8). Além disso, não é necessário que o povo conheça todas as cerimônias nos seus mais pequenos pormenores. “Se entre os ouvintes alguns há que não compreendem palavra por palavra o que se reza ou canta, sabem, contudo, que se reza e canta em louvor de Deus, e isto basta para excitar a piedade” [3] (Sto. Agost.; Sto. T. de Aq.). De mais, a experiência ensina que a língua latina não impede nada a piedade dos fiéis; com efeito, as nossas igrejas, apesar desta língua, estão de ordinário tão cheias, que não bastam para conter osfiéis. – A língua latina também não tem intenção de depreciara língua nacional, porque a emprega com freqüência na pregação, na administração dos sacramentos, no confessionário, nas devoções da tarde, nas orações depois da missa, etc., portanto, se se emprega a língua latina na missa, mais do que nas outras funções litúrgicas, é porque a missa é um sacrifício e não uma prédica ou uma instrução para o povo. De mais, o padre deve recitar em voz baixa a maior parte das orações da missa, e o povo não as ouviria, portanto, mesmo se fossem ditas em língua vulgar. “Além de que o santo sacrifício da missa consiste mais nas ações do que nas palavras: as ações, as cerimônias, os movimentos, falam suficientemente por si mesmos uma linguagem compreensível” (Belarm.). – Se, como alguns desejam, se empregasse exclusivamentea língua vulgar no cultodivino, os indivíduos de nacionalidade diferente tornavam-secomo estranhos à sua religião. O emprego da língua nacional diminuiria até o respeito que se deve ter à missa, assim como o zelo de assistir a ela, como a experiência o demonstrou no tempo da Reforma, quando, para imitar os protestantes, se haviam traduzido fielmente as orações da missa. Aqueles que desejariam se empregasse a língua nacional no serviço divino, viriam, quando muito, uma vez à igreja por curiosidade, para de novo se afastarem dela, porque não é a língua latina o que eles detestam, são as verdades da religião, que lhes advertem que mudem de vida. “Essas pessoas deviam ocupar-se menos de corrigir as palavras da boca do que os sentimentos íntimos dos seus corações” (Mons. Sailer).
Fonte: Catecismo Católico Popular,
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