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6. Criatividade nas Celebrações Litúrgicas
Alguém pode perguntar se existe algum espaço para a criatividade na liturgia. A resposta é que existe, mas ela deve ser entendida corretamente.
Antes de tudo, é necessário ter em mente que o culto público da Igreja é algo que recebemos na fé através da Igreja. Não é algo que inventamos. Na verdade, a essência dos sacramentos foi estabelecida pelo próprio Cristo. E os ritos detalhados, incluindo palavras e ações, foram cuidadosamente elaborados, guardados e transmitidos pela Igreja ao longo dos séculos. Portanto, não seria uma atitude própria para um indivíduo ou comitê ficar pensando e planejando a cada semana como inventar uma nova forma de celebrar a Missa.
Além disso, a prioridade na Missa e em outros atos litúrgicos é o culto a Deus. A liturgia não é um campo para auto-expressão, livre criação e demonstração de habilidades pessoais. Idiossincrasias tendem a atrair atenção à pessoa no lugar dos mistérios de Cristo que estão sendo celebrados. Elas também podem perturbar, complicar, molestar, enganar ou confundir os fiéis.
No entanto, também é verdade que as normas litúrgicas permitem alguma flexibilidade. Com referência à ação litúrgica central e mais importante, a Missa, por exemplo, nós podemos falar de três níveis de flexibilidade. Primeiramente, existem no Missal e no Lecionário alguns textos alternativos, ritos, cantos, leituras e bênçãos, a partir das quais o sacerdote pode escolher (cf. IGMR 24, RS 39). Depois, existem escolhas que são de competência do Bispo diocesano ou da Conferência dos Bispos. Exemplos são a regulação da celebração, normas relativas à distribuição da comunhão sob ambas espécies, construção e ordenamento ordenamento de igrejas, traduções e alguns gestos (cf. SC 38, 40; IGMR 387, 390). Algumas dessas alternativas requerem recognitio da Santa Sé. Os mais exigentes níveis de variabilidade dizem respeito à inculturação no sentido mais estrito. Ela envolve ação pela Conferência dos Bispos, após a realização de profundos estudos interdisciplinares e recognitio da Santa Sé.
A Redemptionis Sacramentum é, portanto, capaz de dizer que "se tem dado um amplo espaço a uma adequada liberdade de adaptação, fundamentada sobre o princípio de que toda celebração responda à necessidade, à capacidade, à mentalidade e à índole dos participantes, conforme às faculdades estabelecidas nas normas litúrgicas" (RS 39). A última frase é importante: "conforme às faculdades estabelecidas nas normas litúrgicas". O parágrafo da Redemptionis Sacramentum conclui com uma observação crucial, recordando que "também se deve recordar que a força da ação litúrgica não está na mudança freqüente dos ritos, mas sim, verdadeiramente, em aprofundar na palavra de Deus e no mistério que se celebra". O que as pessoas estão procurando todo Domingo no seu pastor não é uma novidade, mas uma celebração dos sagrados mistérios que nutra a fé, manifeste devoção, desperte piedade, conduza a oração e incite a caridade ativa na vida quotidiana.
7. Tornando a Missa Interessante
Muitos sacerdotes estão preocupados em tornar a celebração da Eucaristia interessante. E eles não estão errados. A Missa não é uma monótona realização de rituais. É uma celebração vital dos mistérios centrais da nossa salvação.
Deve-se tomar cuidado para preparar-se bem para cada celebração. Os textos a serem lidos, cantados ou proclamados devem ser bem estudados em tempo suficiente. As vestimentas e todos os acessórios e mobiliários do altar devem estar em bom estado. As pessoas que exercem as tarefas de sacerdotes celebrantes, servidores de altar, líder de canto, leitores etc. devem estar no seu melhor. A homilia deve dar às pessoas sólido alimento litúrgico, teológico e espiritual. Se tudo isso é feito, a Missa não será monótona.
Mas quando tudo isso é dito e feito, nós temos que voltar ao fato de que a Missa não é para entreter as pessoas. Tal horizontalismo está fora de lugar. As pessoas não vão à Missa para admirar o pregador, ou o coro, ou os leitores. O movimento prioritário ou direção da Missa é vertical, em direção a Deus, não horizontal, um em direção ao outro. O que as pessoas necessitam é uma celebração cheia de fé, uma experiência espiritual que lhes chama a Deus e, portanto, também ao seu próximo. Como um subproduto, tal celebração vai capturar o interesse e a atenção das pessoas.
Também é útil observar que a repetição de fórmulas e símbolos da fé, ou de palavras e gestos familiares, não necessariamente tornam a celebração desinteressante. Isso importa, entretanto, até o ponto no qual essas fórmulas são compreendidas, daí a importância da catequese. Nas nossas vidas diárias, é desinteressante para nós repetir nossos nomes ou os nomes daqueles que amamos? Nós não amamos nosso hino nacional e o cantamos com piedade? Quanto mais quando isso tem a ver com nossa identidade Cristã!
Se ajuda repetir, eu posso lembrar que as celebrações litúrgicas permitem flexibilidade, que pode ser feita de acordo com normas aprovadas. A Redemptionis Sacramentum exorta o Bispo a não asfixiar as opções previstas pelas normas litúrgicas: "o Bispo deve ter sempre presente que não se impeça a liberdade prevista nas normas dos livros litúrgicos, adaptando a celebração, de modo inteligente, seja à igreja, seja ao grupo de fiéis, seja às circunstâncias pastorais, para que todo o rito sagrado universal esteja verdadeiramente acomodado ao caráter dos fiéis". (RS 21) É por essa razão que o Bispo faz bem em não ser tentado a introduzir restrições desnecessárias em sua diocese, como ordenar que apenas uma particular Oração Eucarística seja usada na Missa. A autoridade do Bispo nunca é mais firme do que quando ele a usa para garantir que as normas gerais que salvaguardam a tradição são observadas.
Um conselho geral sobre se a celebração litúrgica é interessante ou não é simplesmente celebrar com fé e devoção e de acordo com as normas aprovadas, e deixar o resto para a graça de Deus e para a cooperação das pessoas com ela.
8. Dança na Liturgia
Algumas pessoas querem introduzir dança na sagrada liturgia. A liturgia do Rito Latino nunca possuiu tal prática. Nós temos, portanto, que perguntar quem quer trazer a dança para comprovar o motivo pelo qual eles querem introduzi-la.
Se nós dizemos que a razão é tornar a Missa interessante, a resposta é aquela que acabamos de considerar. Nós vamos à Missa para cultuar a Deus, não para ver um espetáculo. Nós temos o salão paroquial e o teatro para shows.
Outros podem dizer que é bem-vinda alguma dança para expressar plenamente nossa oração, pois nós somos corpo e alma. A resposta é que a liturgia, de fato, aprecia gestos e posturas corporais, e cuidadosamente incorporou muitos deles, como ficar de pé, ajoelhar, genufletir, cantar e dar o sinal da paz. Mas o Rito Latino não inclui a dança.
Não é fácil para os dançarinos não chamar atenção para si. Apesar de algumas danças muito requintadas em algumas culturas poderem ajudar a elevar a mente, não é verdade que, para muitas pessoas, as danças são uma distração, em vez de ajuda à oração?
Danças facilmente apelam aos sentidos e tendem a insistir na necessidade de aprovação, diversão, desejo de repetição, e à premiação dos artistas com aplausos da platéia. É para experimentar isso que vamos à Missa? Nós não temos teatros e salões paroquiais, presumindo que a dança em questão é aceitável, que podem lugar para elas?
É verdade que em muitas partes da África e da Ásia pode haver um hábito cultural de um gracioso movimento corporal que, com o devido estudo e aprovação da Igreja local, pode ser aceito em uma celebração litúrgica. O rito Etíope possui conhecidos movimentos rítmicos graciosos e procissão para o Evangelho. O Rito Romano da Missa aprovado para a República Democrática do Congo possui movimentos de entrada similares.
Mas isso é muito diferente do que as pessoas na Europa ou América do Norte pensam quando o conceito de dança é evocado. Será que nós podemos culpar as pessoas que associam dança com Sábado à noite, baile, teatro ou, simplesmente, diversão inocente? Os livros litúrgicos aprovados pelos Bispos e pela Santa Sé para a Europa e América do Norte compreensivelmente não autorizam a importação da dança para a igreja, deixando apenas a celebração do Sacrifício Eucarístico. (veja o artigo no boletim oficial da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos: Notitiae 106-107, June-July 1975, pp. 202-205).
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