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terça-feira, 6 de dezembro de 2016

O FELIZ TRÂNSITO AOS CÉUS PELA SS. VIRGEM MARIA, MÃE DE DEUS, NOSSA SENHORA (segundo o Livro - A Cidade Mística de Deus)


MARIA DESPEDE-SE DOS APÓSTOLOS E DISCÍPULOS

737. Mestra de humildade e de obediência até a morte, respondeu que obedeceria, pedindo a todos a bênção, e que não lhe recusassem este consolo.
Consentindo-o São Pedro, saiu da tarima e pondo-se de joelhos ante o mesmo apóstolo, disse-lhe: A vós, Senhor, como pastor universal e cabeça da santa Igreja, suplico que em vosso nome, e no dela, me deis vossa santa bênção e perdoeis a esta vossa serva o pouco que vos servi nesta vida, para dela partir à eterna. Se for de vossa vontade, dai licença a João para dispor de minhas vestes, duas túnicas, dando-as a umas donzelas pobres a cuja caridade devo obrigação.
Prostrou-se e beijou os pés de São Pedro, com abundantes lágrimas e não menor admiração e pranto do mesmo apóstolo e de todos os circunstantes. De São Pedro passou a São João e ajoelhada também a seus pés, disse: Perdoai, meu filho e senhor, de nào haver cumprido convosco o ofício de Mae, como ordenou o Senhor quando, na cruz, vos designou por meu filho, e a Mim por Mãe vossa (Jo 19, 27). Dou-vos humildes e reconhecidas graças pela piedade filial com que me assististes. Dai-me vossa bênção para subir à eterna companhia e visão daquele que me criou.

ÚLTIMAS RECOMENDAÇÕES DE MARIA SANTÍSSIMA

738. A amorosa Mãe continuou esta despedida, falando a cada um dos apóstolos, com alguns discípulos e depois a todos os circunstantes reunidos, que eram muitos. Terminado, levantou-se e disse a todos os presentes: Meus caríssimos filhos e senhores, sempre vos tive em minha alma e gravados em meu coração, amando-vos ternamente com a caridade e amor que meu Filho santíssimo me comunicou, e a quem sempre vi em vós, como seus escolhidos e amigos.
Por sua vontade santa e eterna, vou para a morada celestial, de onde vos prometo, como Mãe, vos ter presente na claríssima luz da Divindade, cuja visão minha alma deseja e, com certeza, espera receber. Encomendo-vos a Igreja, minha mãe, com a exaltação do santo nome do Altíssimo, a propagação de sua lei evangélica, a estima e apreço das palavras de meu Filho santíssimo, a memória de sua vida e morte, a prática de toda sua doutrina.
Amai, filhos meus, a santa igreja, e uns aos outros de todo coração, com aquele vínculo de caridade e paz que vosso Mestre sempre vos ensinou (Jo 13, 34). E a vós, Pedro, santo pontífice, encomendo João, meu filho, e a todos os mais.

CRISTO OFERECE À SUA MÃE ISENTÁ-LA DA MORTE

739. Maria santíssima terminou. Suas palavras, quais flechas de fogo divino, penetraram e derreteram o coração dos ouvintes que desataram a chorar, prostrados em terra e enternecendo-a com suas lágrimas e gemidos. A tema Mãe também chorou, não querendo resistir a tão amargo e justo pranto de seus filhos. Depois de algum tempo, Ela pediu que, com Ela e por Ela, todos rezassem em silêncio. Nesta serena quietude, desceu do céu o Verbo humanado em trono de inefável glória, acompanhado por todos os santos da natureza humana e de inumeráveis coros de anjos, enchendo a casa do Cenáculo de glória.
Maria santíssima adorou o Senhor, beijou-lhe os pés, e prostrada ante eles fez o último e profundíssimo ato de reconhecimento e humildade na vida mortal. Mais do que todos os homens que, depois de suas culpas se humilharam ou se humilharão, esta puríssima criatura e Rainha das alturas, aniquilou-se e se apegou ao pó.
Seu Filho santíssimo deu lhe bênção, e na presença da comitiva celeste disse-lhe estas palavras: Minha Mãe caríssima, a quem escolhi para minha habitação chegou a hora em que passareis da vida mortal, e do mundo, à glória de meu Pai e minha, onde vos está preparado à minha direita o lugar que gozareis por toda a eternidade.
Como vos fiz entrar no mundo, livre e isenta da culpa, também ao sair dele, a morte não tem licença nem direito de vos atingir. Se não quiserdes passar por ela, vinde comigo, e recebereis a glória que tendes merecido.

MARIA DESEJOU PASSAR PELA MORTE

740. Prostrou-se a prudentíssima Mãe ante seu Filho, e com alegre semblante respondeu: Meu Filho e Senhor, suplico-vos que vossa Mãe e serva entre na vida pela porta comum da morte natural como os demais filhos de Adão. Vós, meu verdadeiro Deus, a padecestes sem obrigação de morrer; justo é que, tendo procurado vos seguir no viver, eu vos acompanhe também no morrer.
Aprovou Cristo, nosso Salvador o sacrifício e vontade de sua Mãe santíssima, e disse que se cumprisse o que Ela desejava. Os anjos começaram a cantar, com celestial harmonia, alguns versos dos cânticos de Salomão e outros novos.
Da presença de Cristo, nosso Salvador, só alguns apóstolos como São João tiveram especial ilustração. Os demais sentiram em seu íntimo divinos efeitos. A música dos anjos, porém, foi sensivelmente ouvida, tanto pelos apóstolos e discípulos, como por outros muitos fiéis que ali se encontravam. Desprendeu-se também uma fragrância divina que, com a música, era percebida até na rua. A casa do Cenáculo encheu-se de admirável resplendor visto por todos, dispondo o Senhor que, para testemunhas desta nova maravilha, concorresse muita gente que andava pelas ruas de Jerusalém.

TRÂNSITO DA MÃE DE DEUS

741. Quando os anjos principiaram a música, Maria santíssima reclinou-se no leito, a túnica ficou-lhe como que unida ao corpo, as mãos juntas, o olhar fixo em seu Filho santíssimo e toda abrasada na chama de seu divino amor.
Quando os anjos chegaram àqueles versos do capítulo II dos Cânticos (v. 10): Levanta-te, apressa-te, minha amiga, pomba minha, formosa minha e vem, que o inverno já passou, etc. A estas palavras, Ela pronunciou aquelas de seu Filho na cruz: Em tuas mãos, Senhor, encomendo meu espírito (Lc 23, 46). Cerrou os virginais olhos e expirou.
A enfermidade que lhe tirou a vida foi o amor, sem qualquer outro ataque ou acidente. O poder divino suspendeu a ação miraculosa com que lhe conservava as forças naturais, para não se consumirem no ardor sensível que lhe causava o fogo do amor divino. Cessando este milagre, o amor produziu seu efeito, consumiu a umidade radical do coração e assim lhe faltou a vida.

IDADE DA MÃE DE DEUS

742. Aquela alma puríssima passou de seu virginal corpo à destra e trono de seu Filho santíssimo onde, num instante, foi colocada com imensa glória. Começou-se a ouvir que a música dos anjos ia se afastando na região do ar, porque a procissão dos anjos e santos, acompanhando seu Rei e Rainha, encaminhou-se para o céu empíreo.
O sagrado corpo de Maria santíssima que fora templo e sacrário de Deus vivo, ficou cheio de luz e resplendor, desprendendo tão admirável fragrância, que encheu a todos os circunstantes de suavidade interior e exterior. Os mil anjos custódios de Maria santíssima ficaram guardando o precioso tesouro de seu virginal corpo. Os apóstolos e discípulos, entre lágrimas de dor e alegria, pelas maravilhas que presenciaram, permaneceram absortos por algum tempo e, em seguida, cantaram muitos hinos e salmos em honra da falecida Senhora.
O glorioso trânsito da grande Rainha do mundo verificou-se a treze de agosto, sexta-feira as três horas da tarde, como o de seu Filho santíssimo. Contava setenta anos de idade, menos os vinte e seis dias que vão de treze de agosto em que morreu, até oito de Setembro em que nasceu, e no qual completaria os setenta anos.
Depois da morte de Cristo nosso Salvador, a divina Mãe viveu no mundo vinte e um anos, quatro meses e dezenove dias, sendo o ano cinqüenta e cinco de seu virginal parto.
É fácil fazer o calculo: Quando Cristo nosso Salvador nasceu, a Virgem Mãe tinha quinze anos, três meses e dezessete dias. O Senhor viveu trinta e três anos e três meses. Ao tempo de sua sagrada Paixão estava Maria santíssima com quarenta e oito anos, seis meses e dezessete dias. Acrescentando a estes os outros vinte e um anos, quatro meses e dezenove dias, fazem os setenta anos menos vinte e cinco ou seis dias.

PRODÍGIOS SUCEDIDOS NA MORTE DA VIRGEM

743. Grandes maravilhas e prodígios sucederam na preciosa morte da Rainha. O sol eclipsou-se, como disse acima, e em sinal de luto escondeu sua luz por algumas horas. À casa do Cenáculo acorreram muitas aves de diversa espécies e, com tristes gorjeios, estiveram algum tempo se lamentando e provocando o pranto de quem as ouvia.
Toda Jerusalém se comoveu e, admirados, vinham muitos confessando em alta voz o poder de Deus e a grandeza de suas obras. Outros ficavam atônitos e fora de si. Os apóstolos e discípulos, com outros fiéis, se desfaziam em lágrimas. Acorreram muitos enfermos e todos foram curados. Saíram do purgatório as almas que lá estavam.
O maior prodígio foi o seguinte: na mesma hora de Maria santíssima, expiraram três pessoas; um homem em Jerusalém e duas mulheres vizinhas do Cenáculo. Morreram em pecado, sem penitência e iam ser condenadas. A dulcíssima Mãe, porém, pediu misericórdia para eles no tribunal de Cristo. Alcançou que fossem restituídos à vida que então modificaram, de modo a viver na graça e se salvar. Este privilégio não se estendeu a outros que naquele dia morreram no mundo, mas só àqueles três que se verificaram à mesma hora em Jerusalém.
O que sucedeu no céu e quão festivo foi este dia na Jerusalém triunfante descreverei noutro capítulo, para não o mesclar com o luto dos mortais.

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